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Exportadores de café têm prejuízo de R$ 5,9 milhões com carga não embarcada em agosto

O não embarque deste volume de café impediu a entrada de R$ 1,205 bilhão ao Brasil

Montante é resultado da incapacidade de embarcar 624.766 sacas

O aumento das exportações com a crescente safra de café arábica está expondo fragilidades na infraestrutura logística do Brasil. De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os exportadores tiveram um prejuízo de R$ 5,9 milhões em agosto apenas com custos adicionais de armazenagem, pré-stacking e detentions. O montante é resultado da incapacidade de embarcar 624.766 sacas — o equivalente a 1.893 contêineres.

Além do prejuízo direto, o não embarque deste volume de café impediu a entrada de US$ 221,28 milhões (R$ 1,205 bilhão) na receita cambial do país no mês de agosto.

O diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron, lamentou o cenário, que considera recorrente e com tendência de agravamento. “É um cenário que se repete e, infelizmente, tende a piorar nos próximos meses e anos se não houver investimentos rápidos nos portos do Brasil para aumentar a oferta de capacidade de pátio e berço”, alertou.

Em julho, a deficiência portuária também impediu o embarque de 508.732 sacas de café. O prejuízo foi de R$ 1,084 bilhão. Já em junho foram impedidas 453.864 sacas.

Infraestrutura esgotada e impacto no comércio exterior

Heron enfatizou que, embora o agronegócio cresça a taxas expressivas, a infraestrutura portuária e a diversificação de modais de transporte não acompanham a evolução, resultando em portos lotados e constantes atrasos de embarcações.

Desde o início da crise nos portos, o Cecafé tem atuado junto a autoridades e outras entidades do setor para buscar soluções, destacando a necessidade de celeridade no leilão do Tecon Santos 10. Segundo Heron, restrições impostas pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) no processo licitatório podem levar à judicialização e atrasar ainda mais a ampliação da capacidade no Porto de Santos.

Mobilização por Nova Lei de Portos

Em busca de otimização logística, o Cecafé, em conjunto com outras grandes entidades do agronegócio e indústria (IPA, FPA, CNI, CNA e Logística Brasil), reuniu-se com o relator do Projeto de Lei (PL) 733/2025, o deputado federal Arthur Maia, que propõe um novo marco regulatório para o Sistema Portuário Brasileiro.

A entidade defendeu a manutenção da garantia de modicidade e publicidade das tarifas portuárias e ressaltou a importância de uma governança mais equilibrada no Conselho de Autoridade Portuária (CAP), incluindo a participação dos usuários de carga.

O Conselho também defende a criação de indicadores logísticos transparentes para avaliar o desempenho portuário. “As autoridades públicas têm dificuldade para enxergar gargalos logísticos diante das consecutivas quebras de recordes do comércio exterior brasileiro”, explica Heron.

Em outro movimento, o Cecafé protocolou, junto ao deputado federal Evair de Melo, um requerimento para a realização de audiência pública na Câmara Federal para debater os impactos do esgotamento da infraestrutura portuária e a urgência do leilão do Tecon Santos 10.

O cenário crítico é comprovado pelo Boletim Detention Zero (DTZ), que indicou que 50% dos navios (168 de 335 embarcações) sofreram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil em agosto de 2025.

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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde