O sabor e o valor nutricional do pinhão precoce são iguais aos do tradicional. Essa é a principal conclusão de um estudo conduzido pela Embrapa Florestas (PR), que avaliou a composição do pinhão produzido por araucárias (Araucaria angustifolia) clonadas por enxertia. A constatação reforça a viabilidade da tecnologia que permite colher as sementes da árvore símbolo do Sul do Brasil em metade do tempo do que o convencional e sem abrir mão da qualidade.
A técnica de clonagem via enxertia permite que árvores iniciem a produção de pinhões entre seis a dez anos após o plantio, um avanço significativo frente aos 12 a 20 anos das árvores tradicionais. Fruto de anos de pesquisa participativa conduzida em parceria pela Embrapa Florestas e pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), as instituições acabam de
“A consolidação desse sistema representa um marco para produtores rurais, especialmente das Regiões Sul e Sudeste do País, onde o pinhão tem forte apelo cultural e econômico, mas cuja produção ainda depende quase exclusivamente do extrativismo em florestas nativas”, conta o pesquisador da Embrapa Florestas Ivar Wendling. Com a produção precoce, o retorno do investimento se torna mais rápido, incentivando o plantio, a geração de renda e, consequentemente, a conservação da espécie pelo uso sustentável.
Wendling diz que, muitas vezes, algumas mudas enxertadas não se desenvolviam adequadamente, o que fez os pesquisadores elaborarem um manual de boas práticas aos interessados. Entre as questões abordadas na publicação estão as vantagens do uso da técnica, dúvidas sobre a produção de pinhão em pomares, e pontos fundamentais ao cultivo como a qualidade de mudas, a escolha da área do pomar, a implantação, o manejo e os principais problemas e ocorrências no campo.
O pesquisador destaca, ainda, que o processo requer conhecimento técnico para a escolha das matrizes (árvores-mãe) e para a realização da enxertia, garantindo o sucesso do pegamento e a qualidade futura dos pinhões.
Pinhão tão nutritivo quanto o convencional
Os estudos avançaram para entender se os pinhões produzidos de forma precoce mantêm as características dos pinhões tradicionais. Análises da composição nutricional indicam que a qualidade do alimento se mantém, sendo nutricionalmente equivalentes aos pinhões de árvores tradicionais.
O estudo comparou pinhões in natura e cozidos de árvores enxertadas com os tradicionais. Os resultados mostraram que os pinhões precoces mantiveram o baixo teor de gordura e são boas fontes de proteínas e carboidratos, com alto conteúdo de fibras alimentares e alto valor calórico, de forma similar aos pinhões de plantas tradicionais.
Técnica do enxerto
A técnica para produção precoce de pinhão se baseia na clonagem via enxertia. O resultado é uma antecipação significativa do ciclo produtivo. “Isso acontece porque, em nível celular, a nova planta enxertada se comporta como se tivesse a idade da planta do qual o broto foi colhido”, explica Wendling.
O pesquisador alerta que os interessados no cultivo devem dar especial atenção à escolha de viveiros para compra de mudas. Eles devem estar credenciados junto ao Registro Nacional de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura (Renasem) e, preferencialmente, produzir plantas enxertadas com cultivares registradas para a produção de pinhão. “Esse foi outro avanço da pesquisa: o desenvolvimento e registro de cultivares. Até então, a produção de pinhão era totalmente extrativista, a partir de árvores que já existem na natureza, e conseguimos desenvolver cultivares para estabelecer efetivamente um sistema de produção”, celebra o pesquisador.
Conservação da espécie
A implantação de pomares de araucária para produção precoce de pinhão pode ajudar na redução da pressão sobre plantas nativas da espécie, tendo em vista a maior produtividade de pinhões e a facilidade de colheita. “É como um pomar de frutas, que é cultivado para esse fim”, explica Wendling. “Além disso, a possibilidade de a araucária gerar retorno financeiro com a produção de pinhões tem resultado em uma mudança significativa da mentalidade de produtores rurais em relação à espécie, que até então era vista com restrições por conta da legislação”.
Outro ponto importante levantado pelo pesquisador é a possibilidade de conservação de árvores mais velhas, uma vez que a enxertia possibilita o resgate vegetativo e multiplicação dos genótipos, tornando possível a sua conservação perene e estudos de longo prazo. Um exemplo recente foi o resgate e conservação da
“Essas árvores têm muita importância para questões conservacionistas e científicas, tendo em vista a possibilidade de possuírem genes raros, podendo fornecer informações importantes para a ciência e material genético para o melhoramento da espécie”, avalia o pesquisador.
Por fim, as questões climáticas também merecem atenção, pois plantas enxertadas possibilitam o cruzamento de indivíduos de diferentes populações, naturalmente separados por questões geográficas. “O aumento da diversidade genética com as novas plantas formadas pode resultar em maiores potenciais de adaptação às mudanças do clima”, esclarece.