Se depender do esforço dos coordenadores e técnicos do projeto Agro + Verde, a banana e o cacau vão se casar no Norte de Minas. A união das duas culturas vem sendo incentivada nos últimos meses por que o cacaueiro gosta da sombra do bananal e a prática otimiza o uso de recursos como solo, água, equipamentos, mão de obra e ainda possibilita a produção simultânea das duas culturas.
Essa e outras questões foram debatidas num Dia de Campo, realizado, ontem (8) em Janaúba, no Norte de Minas. O Agro+Verde é uma iniciativa conjunta do Instituto Antônio Ernesto de Salvo (INAES) - braço do Sistema Faemg/Senar - e da Cargil, multinacional que atua no ramo da produção e processamento de alimentos.
“Queremos que produtores tenham cada vez mais conhecimento técnico sobre a cultura do cacau em consórcio com a bananicultura. A região já tem uma expertise na fruticultura, que é muito forte. E a gente enxerga isso como uma característica muito importante para o desenvolvimento e os bons resultados”, disse o gerente executivo do Inaes, Bruno Rocha de Melo.
Do Norte de Minas saem, semanalmente, cerca de 10 mil toneladas de frutas. A proposta é que o fruticultor adote o plantio do cacau, de forma escalonada, sem prejuízo para a cultura da banana. A cada linha de plantio de um, coloca-se uma linha de plantio do outro. Quando essa árvore atingir determinado tamanho e a bananeira estiver em uma condição que já não mais gera frutos, ela será retirada.
Bruno explica que o bananal tem um tempo de vida útil. Então, na fase em que ele começa a decair e começa a deixar de ser produtivo, será plantado o cacau. O plantio será feito entre as linhas do bananal e, com isso, esse cacau receberá o sombreamento pra ter um crescimento mais adequado. Depois de dois ou três anos, retira-se o bananal e o cacau se mantém por si só. Então a substituição da cultura será apenas no momento que as bananeiras estiverem caindo a produtividade, sem qualquer impacto para a produção de bananas da região”, explicou.
Fábio Marques, Gerente de Projetos de Expansão da Cargill, disse que a empresa quer atuar como “indutora de expansão do cacau na região” e ressaltou os pontos favoráveis:
- vocação e tradição para a fruticultura
- profissionalismo do produtor
- condições de clima ideais para o cultivo de cacau produtivo.
- Estrutura e preparo de solo já disponíveis em função da cultura da banana, o que permite que a transição aconteça de forma acelerada e menos intensiva.
Assistência Técnica com foco no uso sustentável
Os trinta produtores inscritos no projeto Agro + Verde receberão as ações e a assistência técnica, com foco no uso sustentável das propriedades rurais que estejam degradadas, alteradas ou com baixa produtividade. Nos dois primeiros anos, o plantio do cacau será feito em consórcio com as áreas de bananas, até que a substituição deste terreno plantado seja efetivada.
“Nossa proposta é ter um período de implantação mais curto, para este produtor implantar a cultura entre esse e o próximo ano. Queremos trazer soluções que vão alavancar essa cultura tão importante e com potencial tão grande de expansão aqui no Norte de Minas”, disse o gerente de Sustentabilidade da Cargill, Raphael Hamawaki.
Estudos sobre a viabilidade do cacau na região já duram 10 nanos
Bruno Rocha disse que a perspectiva é formar uma cadeia produtiva local mais fortalecida para a cultura do cacau. Segundo ele, nos últimos 10 anos, o cultivo do fruto no Norte de Minas vem sendo alvo de estudos e análises, com algumas fazendas já com boas áreas plantadas e colhendo o fruto, num total de 400 hectares.
“No início, havia poucos produtores interessados na cultura. Agora, com o início das primeiras colheitas, estamos bem motivados com o que estamos vendo”, disse Margareth Antunes Guimarães, uma das sócias da fazenda onde aconteceu o Dia de Campo.
Produtores terão maior segurança produtiva
Com valor agregado no mercado nacional e internacional, a castanha do cacau tem possibilidades de ganhos significativos, além de proporcionar maior segurança produtiva. “Nosso fruticultor trabalha, na maioria das vezes, com um produto perecível, que precisa ser vendido no momento da colheita, como caso é o caso da banana. Com a cacauicultura, o produtor passa a ter tempo de trabalhar seu fruto, sua produção, melhorando sua comercialização, com uma melhor negociação e um preço cotado em bolsa”, avalia o produtor rural e diretor do Sindicato de Janaúba, João Marcelo.
O Sindicato dos Produtores Rurais de Janaúba e a Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte) são entidades parceiras na mobilização das ações e dos produtores para o início do projeto.
(*) Com informações de Ricardo Guimarães do SENAR.
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