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Qualidade do café: saiba quais impurezas são toleráveis por lei e quais não

Quando o alimento comercializado apresenta uma porcentagem maior de materiais naturais, como cascas e folhas, e de materiais ‘estranhos’ como grãos de outros vegetais e torrões de terra, ele é considerado fraudado

O que define se é café é comoodity ou especial é a qualidade da bebida e a quantidade de defeitos

No início desse mês, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulgou os nomes de 14 marcas e lotes de café torrado que foram classificadas pelo órgão como ‘impróprias’ para consumo. A pasta informou que foram encontradas matérias estranhas e impurezas ou elementos estranhos acima dos limites permitidos pela lei vigente, tal a Portaria nº 570.

Ela permite que o produto possua até 1% de impurezas naturais do café (como galhos, folhas e cascas) e matérias estranhas (por exemplo, grãos ou sementes de outras espécies vegetais, pedras e areia).

Quando o alimento comercializado apresenta uma porcentagem maior desses elementos, ele é considerado fraudado.

De acordo com o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, Hugo Caruso. as impurezas podem ir parar no café de forma acidental, durante o próprio processo de colheita. Já os elementos ‘estranhos’ são adicionados intencionalmente com o objetivo de encorpar e falsificar o produto. “São pessoas de má fé”.

Análise pelo Mapa é feita com microscópio

A identificação de impurezas e matérias estranhas no café é feita por meio de análises microscópicas. Caruso explica que, apesar de considerar a metodologia boa, ela depende de qual for a matéria adicionada ao café e quais foram os pontos de torra e da moagem, que podem mascarar as irregularidades.

Caruso contou que em algumas torrefadoras que eles foram, as empresas estavam torrando café com 1.000 defeitos, 1.200 defeitos, o que é totalmente inaceitável”.

A metodologia, utilizada pelo Mapa,foi desenvolvida há 100 anos, para a comercialização do fruto na bolsa de Nova York (EUA). Ela admite que o café tenha até 360 defeitos em 300g. Contudo, cada irregularidade tem um peso diferente, com direito a tabela e tudo Por exemplo, um grão preto (podre) tem 1 ponto. Já se forem encontrados uma pedra, um pau e torrão de terra, aí valem cinco pontos.

Guima Café é referência na seleção das impurezas

Existem equipamentos no beneficiamento de café que já permitem a separação de impurezas do grão bom. É assim que o tipo especial consegue ser 100% sem defeitos. Isso é o que acontece, por exemplo, no processo de produção do premiado Guima Café, no Alto Paranaíba. O técnico agrícola, Ricardo Vítor Oliveira, contou à Itatiaia que o processo de retirada das impurezas inicia-se na colheita, que é quase 100% mecanizada. Quando ela acontece manualmente, embaixo dos pés de café é colocada uma espécie de lona, chamada ráfia, para pegar os grãos que, inevitavelmente, caem no chão, sem risco de virem junto os indesejáveis torrões de terra e, até mesmo, insetos.

Da máquina colhedora, o café vai direto para contêineres, onde é abanado por uma espécie de ventilador gigante. Daí é colocado numa máquina de lava que lava o café e faz a separação das impurezas pelo processo de decantação. “O que for leve como o café acompanha o lote”, diz Ricardo.

Do lavador, o café é levado para um pátio pavimentado. Lá, os lotes são separados para iniciar o processo de secagem. O café é peneirado, ventilado e lavado. Tem o conjunto do lavador de pré-limpeza, o conjunto de pré-limpeza dos terreiros para os secadores; o conjunto de pré limpeza dos secadores para as tulhas e das tulhas para as máquinas que faz a descasca do café, o chamado beneficiamento

Segundo Ricardo - tanto o café especial como o commodity passam pelos mesmos processo de lavagem e retirada das impurezas. O que vai definir se é comoodity ou especial é a qualidade da bebida e a quantidade de defeitos”, explicou. Ele lembrou ainda que cafés são frutos que, no final, vamos consumir as sementes. Por isso, a qualidade é fundamental. “O produtor que não fizer esse dever de casa, está dando um tiro no próprio pé, porque isso vai interferir na qualidade e no preço final do café”.

O Guima Café produz uma média de 25 mil sacas de café por safra; 80% da safra é destinado à produção de cafés especiais.

Mapa recomenda não comprar cafés muito escuros

O diretor do Mapa, Hugo Caruso, recomendou que os consumidores não comprem os cafés muito escuros, resultado de torras muito fortes que podem ter sido feitas na tentativa de disfarçar os ‘defeitos’. “Quando você torra muito escuro, o café vira um carvão, então tanto faz se é uma casca ou se é um café ou se é um milho, fica tudo igual”, completa.

(*) Com informações do Mapa

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.