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Produtores de morango de São Gotardo convidam para a tradicional ‘colheita no pé’; entenda

Abertura da safra está atrasada, mas deverá acontecer no próximo dia 29 com frutos ainda mais graúdos e doces

Jovem faz pose para post do Instagram. Eles levam caixinhas de leite condensado e Nutella para incrementar degustação

Um rolé diferente. Em vez de irem ao shopping ou numa sorveteria no fim de semana, jovens e famílias inteiras se preparam para colher morangos frescos diretamente no pé. É a abertura da lavoura da fruta em São Gotardo no Alto Paranaíba, um dos principais produtores de morangos do Estado.

Esse ano, a data de início está atrasada porque as altas temperaturas - para a época - estão dificultando a maturação. Por isso, a famosa degustação da fruta promovida por um grupo de produtores locais, também foi adiada. Um post do Instagram na página do empreendimento informa que “devido ao clima e ao movimento intenso, informamos que os morangos ainda não estão maduros o suficiente para a colheita. Por esse motivo, a abertura da colheita foi adiada para o dia 29/6”.

O engenheiro agrônomo e sócio do Grupo Souza e Silva, responsável pelo empreendimento, Ricardo Alex, disse à Itatiaia que durante o dia tem feito uma média de 22 graus e à noite, cai bastante, em torno de 8 graus. Essa grande amplitude térmica afeta a planta, fazendo com que as mudas ‘vegetem’ mais do que produzam. Mas o inverno está apenas começando. Temos esperança de que a situação se normalize”, disse Ricardo.

Apesar do atraso, morangos estão chegando grandes e ainda mais doces. Visitante pode levar a caixa com a quantidade que desejar

Visitação começou de forma despretensiosa

A degustação do morango no pé foi uma ideia do produtor e ex-prefeito de São Gotardo, Seiji Sekita, há 25 anos. Ele e o pai de Ricardo, José Palmério, eram sócios e tiveram a ideia de permitir a entrada de turistas na lavoura para a compra direta como forma de driblar a baixa remuneração paga pela indústria de sucos e geleias. “Nessa época, a degustação não era cobrada. O visitante pagava apenas o que fosse levar pra casa”, conta Ricardo. Foi um sucesso que surpreendeu até mesmo os antigos sócios do grupo União.

Com o passar dos anos, o empreendimento tornou-se um evento do calendário oficial do município, atraindo milhares de pessoas das cidades do entorno como Patos de Minas, Carmo do Paranaíba, Ibiá, Tiros, Araxá, Uberaba, Uberlândia e até mesmo de grandes centros como São Paulo e Belo Horizonte. “O passeio ficou tão popular que cobrar a entrada tornou-se imperativo”, explicou Ricardo.

Hoje, quem quiser viver a experiência, paga R$ 25 pela entrada, que dá direito à degustação sem restrições. E quem quiser levar as frutas pra casa, há embalagens próprias no local que são pesadas na hora ao custo de R$ 45 o quilo.

Produção da fruta pede temperaturas em torno dos 12 graus

As pessoas vão em grupos de amigos ou em famílias e aproveitam a beleza da lavoura para fazer fotos e vídeos para as redes sociais. Nas bolsas e mochilas, não faltam incrementos para a fruta (como se precisasse!) como leite condensado, chantily e Nutella. “As crianças, principalmente, adoram. Mas realmente, não precisa porque nossas frutas são suculentas e docinhas. É uma curtição. Um dia de muita alegria”, conta Ricardo que disse já ter se deparado com muitos jovens que nunca tinham visto um pé de morango e até outros que nunca tinham, sequer, colocado os pés numa fazenda”, surpreende-se o produtor. Ele e os sócios Bruno Leandro, Guilherme Júnio e Thiago Augusto assumiram o empreendimento há sete anos e deram uma ‘cara’ mais turística ao negócio.

Preparação da lavoura começa em novembro

A empreitada começa sempre em novembro quando são adquiridas 1400 matrizes de morango da variedade Dover, que são plantadas em meio hectare. “Então, deixamos que se multipliquem até que soltam um cipó que se chama ‘estolão’. Em geral, esse primeiro plantio rende 380 mil mudas que serão distribuídas em 5 hectares. Em abril, é feito o transplante para a área de produção propriamente dita”. O plantio é 100% irrigado com a utilização de pivôs por se tratar de uma planta com grande necessidade hídrica.

Sessenta dias antes da colheita, cessa-se o uso de herbicidas

A cada safra, os sócios mudam o local de plantio na tentativa de minimizar a ação de pragas e minimizar o uso de agrotóxicos. Essa, aliás, é uma grande preocupação dos sócios. Dois meses antes de abrir a lavoura, eles vetam totalmente o uso de produtos químicos. Segundo Ricardo, quando as plantas começam a aflorar, já não tem mais nenhum resíduo. “Só não falamos que é um produto orgânico porque fazemos adubação química. Mas técnicos do IMA visitam constantemente a propriedade, fazem análises e nunca fomos notificados por irregularidades”, orgulha-se.

Visitantes precisam andar pela lavoura e manusear as plantas com cuidado

Outro desafio é a conscientização dos visitantes para a importância de terem cuidado com a lavoura, não machucando os pés e evitando o desperdício das frutas. De acordo com Ricardo, tem sempre um grupo que pisa de qualquer jeito e degrada bastante a lavoura. Por esse motivo, eles não têm noção de quantos quilos da fruta são produzidos. Tem muito desperdício. Não conseguimos mensurar”. Ele também não sabe dizer quantas pessoas passam pela lavoura, anualmente. “Não contabilizamos. Mas é muita gente, graças a Deus. O pessoal gosta bastante”.

A Lavoura de Morango fica a 4k do centro de São Gotardo, na estrada em direção à Capela do município.

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.