A produtora rural Lilian Laughton comanda uma propriedade de gado de corte com 484 hectares e, aproximadamente, 600 cabeças de gado, em São João da Ponte, no Norte de Minas. Ela também preside a Comissão da Mulher da Federação da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG) e é instrutora na área da promoção social do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).
Lilian Laughton
Apesar da correria para dar conta de tantos compromissos, Lilian diz que nunca esteve tão bem resolvida profissionalmente. “Tenho orgulho de ser produtora rural e quero trazer outras mulheres para esse universo”, diz. Mas até chegar aqui foi um longo caminho que, na verdade, só começou a ser desenhado em 2018, com a morte repentina de seu pai, Ricardo Laughton, que era pecuarista de corte, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Montes Claros e vice-presidente da Faemg.
“Ele era muito dinâmico, protetor, tomava conta de tudo e não me deixava participar muito. Com a partida dele, tive que aprender todos os processos na marra”, conta. A atitude do pai de Lilian de tentar ‘protegê-la do trabalho árduo do campo’, infelizmente, ainda é comum e, por isso, muitas mulheres acabam entrando no universo do agro apenas quando perdem os pais ou maridos.
Pois foi pensando na necessidade da quebra desse e de outros paradigmas que a FAEMG reuniu hoje (20) em sua sede 250 mulheres para o “Encontro de Líderes do Agro”. O evento contou com a presença do secretário de Estado da Agricultura e Pecuária Thales Fernandes, da presidente da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), Cristiana Gutierrez; da presidente da Comissão do Direito do Agronegócio da OAB/MG, Valéria Lemos; da presidente da Comissão Nacional das Mulheres da CNA, Stephany Ferreira, da pesquisadora e coordenadora de projetos sobre Liderança e Inovação em Gestão de Pessoas e Gestão de Carreiras e vice-presidente da ONG “De Olho no Material Escolar, Ana Nery e de Raquel Soares, professora na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e fundadora da startup WantU-Agro.
“Quero que olhem para fora da porteira”, Silvana Novais
Silvana Novais, coordenadora da Gerência da Mulher, do Jovem e da Inovação, que ficou responsável pelo evento, disse que gostaria que as participantes saíssem de lá com vontade de se posicionarem onde quer que estejam. “Que elas não olhem apenas olhem apenas dentro da porteira. Que passem a olhar para fora, para exercerem de fato seus papeis de liderança com uma boa representatividade do nosso setor, transformando e impactando outras vidas”, falou.
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Secretário diz que mulheres tem trazido ‘novo ar’ para o agro
O secretário Thales Fernandes disse que a mulher, hoje, “definitivamente tem um protagonismo fundamental no agro, haja vista que respondem por 25% do PIB, junto com os jovens”. “Elas são mais organizadas, estudiosas, criteriosas e abertas a inovações do que nós, homens. Elas têm trazido um novo ar para o agro e, de certa forma, dado mais tranquilidade aos homens no que se refere à questão da sucessão rural”. O secretário lembrou ainda que, nos 132 anos de existência da pasta que ele próprio chefia, apenas uma mulher ocupou o cargo de secretária : sua antecessora Ana Valentim. “Isso precisa mudar, Precisamos ter mais mulheres em cargos de decisão e de grande representatividade porque lugar de mulher é onde ela quiser estar”.
“Elas têm uma sensibilidade diferente”, Antônio de Salvo
Já o presidente da Faemg, Antônio de Salvo, disse que o “Encontro das Líderes do Agro” era importante para ‘cuidarmos que a participação feminina seja cada vez mais efetiva dentro da agricultura e pecuária’. “As mulheres têm uma visão diferente, uma sensibilidade diferente e, por isso, é muito importante que elas participem junto com os homens para que possamos ter um resultado ainda melhor na produtividade e na transformação da agropecuária mineira e brasileira. “Se é que já existiu preconceito contra elas algum dia, ele não existe mais. Acho que elas, hoje, têm todas as condições de estar junto dos homens pra gente continuar nosso processo de melhoria contínua dentro das nossas propriedades”.
“Não me preocupo com essa questão de gênero”, Hilda Loschi
Hilda Loschi
Hilda Loschi, pecuarista, fruticultora, integrante da Comissão Faemg Mulher e liderança feminina importante no Norte de Minas, ressaltou que o mais importante é levar informação de qualidade para outras mulheres, com um trabalho sério de educação e formação. “Eu nem me preocupo com essa questão de gênero. Não tem vitimização aqui, só queremos demonstrar o trabalho árduo, sério, bem feito e sustentável que é possível ser desenvolvido no agronegócio, essa indústria a céu aberto que depende do clima, depende do acesso à água e depende de sabermos lidar com as legislações ambientais que bem ou mal pesam, mas precisam ser seguidas à risca”.
Caroline Livorato
Assim como Lilian Laughton do início dessa matéria Caroline Livorato, de 28 anos, também foi pega de surpresa quando precisou assumir a propriedade da família, aos 21 anos, após a partida do pai. Ela é a mais jovem presidente de um Sindicato Rural no Estado - o de Santa Juliana - dos 401 existentes. “No início foi difícil. Ouvi de pessoas da minha própria família que era melhor desistir porque a lida na fazenda não era coisa de mulher e que eu só iria arranjar dor de cabeça”. Hoje ela administra, com a participação de um tio que é também seu sócio, a propriedade que tem 200 cabeças de gado (pecuária de corte) e 750 hectares plantados de grãos (milho e soja). Formada em Agronomia pela Universidade Federal de Uberlândia, ela planeja aprimorar cada vez mais os processos na propriedade e, futuramente, trabalhar com horticultura, atividade que era ‘a menina dos olhos’ de seu pai.