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O retorno do dodô: pesquisadores planejam ressuscitar a ave extinta em até 5 anos

Projeto busca reintroduzir milhares de exemplares nas florestas das Ilhas Maurício, no Oceano Índico

Imagem gerada por inteligência artificial

Após mais de três séculos de desaparecimento, o dodô poderá voltar a caminhar pelas florestas da ilha Maurício, no Oceano Índico. Essa iniciativa, da empresa americana de biotecnologia Colossal Biosciences, faz parte de um esforço maior, que também visa trazer de volta outras espécies emblemáticas.

Recentemente, a empresa anunciou um avanço importante que aproxima o projeto da realidade: cientistas conseguiram cultivar com sucesso células germinativas primordiais de pombos. Essa conquista representa um passo crucial na “desextinção” do dodô, com previsão de que os primeiros exemplares possam ser reintroduzidos em um período de cinco a sete anos.

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Como será criado o novo dodô

A estratégia científica para reviver a ave envolve a tecnologia de edição genética CRISPR e galinhas geneticamente modificadas, que funcionarão como portadoras ou “substitutas” do dodô.

  • Células de parente próximo: células germinativas do pombo Nicobar, o parente vivo mais próximo do dodô, serão inseridas nas galinhas modificadas.
  • Edição do genoma: o DNA será ajustado para reproduzir características físicas do dodô, como o formato do corpo e da cabeça, recriando seu fenótipo original.
  • Diversidade genética: segundo Ben Lamm, CEO da Colossal, a meta é gerar milhares de dodôs com diversidade genética suficiente para prosperar na natureza.

Para garantir a sobrevivência da espécie, a empresa já colabora com organizações de conservação para identificar habitats seguros nas Ilhas Maurício, livres das ameaças que causaram a extinção original, como caça e espécies invasoras.

O debate ético e científico

Apesar do entusiasmo da Colossal, o projeto gerou intensos debates sobre as consequências ecológicas e éticas.

Beth Shapiro, cientista-chefe da empresa, afirma que o processo será “lento e cuidadoso” e que os efeitos da reintrodução de uma ave de grande porte no ecossistema ainda não estão totalmente compreendidos.

Especialistas questionam a autenticidade genética dos animais. Leonardo Campagna, do Laboratório de Ornitologia Cornell, alerta: “É difícil prever tudo que é necessário para recriar um dodô, desde sua arquitetura genômica até a interação com o ambiente.”

Outros, como Rich Grenyer, da Universidade de Oxford, classificam a “desextinção” como uma distração perigosa, desviando a atenção de problemas ambientais reais, como a destruição do habitat que levou à extinção da espécie.

Financiamento e perspectivas

O projeto da Colossal Biosciences conta com sólido apoio financeiro. Um aporte recente de US$ 120 milhões (aproximadamente R$ 660 milhões) elevou a avaliação da empresa para US$ 10,2 bilhões (cerca de R$ 54,3 bilhões), contando com investidores como Tom Brady, Paris Hilton, Tiger Woods e Peter Jackson.

Ben Lamm defende a iniciativa, descrevendo-a como um “feito monumental de engenharia genética”, comparável à clonagem da ovelha Dolly, e reforça que a atenção que o projeto recebe é positiva, independentemente de se tratar de dodôs “genuínos”.

Jornalista pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente, é repórter multimídia no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Antes passou pela TV Alterosa. Escreve, em colaboração com a Itatiaia, nas editorias de entretenimento e variedades.