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Pesquisa resgata a história da população negra ‘apagada’ em município mineiro

Em Cabo Verde os registros históricos estavam perdidos, mas a pesquisa fez o resgate

Cabo Verde, de aproximadamente 12 mil habitantes, é um município do Sul de Minas conhecido como “Terra dos Cafés Especiais”, pela qualidade dos grãos e da bebida produzidos na localidade. Em 1766 Cabo Verde já era um povoado bastante habitado, com grande número de escravos negros, segundo a história registrada.

O que pouco se sabia é que a população negra de Cabo Verde se organizava em uma sociedade que foi completamente apagada da história da cidade, a “Irmandade dos Homens Pretos de Cabo Verde” resgatada agora, em 2025, pelos professores Lídia Maria Reis Torres e Luiz Eduardo Oliveira, nascidos e moradores do município.

A Irmandade dos Homens Pretos de Cabo Verde está confirmada no livro “Ancestralidade e Memória” e no documentário em vídeo “Quando bate a Alfaia Caiapó”, produzidos pelos dois professores.

Entre as descobertas está o fato do local onde hoje é um parque infantil, bem no Centro de Cabo Verde, ter sido, em séculos passados, o cemitério de escravos e de pessoas fora da elite formada por fazendeiros, e uma igreja construída e frequentada por negros ter sido demolida por decisão unilateral de pessoas da elite branca.

Lídia Maria Reis Torres é doutoranda em Ciências Sociais, especialista em Jornalismo Científico e mestre em Antropologia Social com foco nas relações de trabalho na colheita de café. Ela notou o apagamento da história negra de Cabo Verde ao longo dos seus estudos e resolveu resgatá-la.

“Tanto a ideia de fazer um documentário, quanto a ideia de fazer um livro, foi pensando em fazer circular entre a população os resultados da nossa pesquisa, especialmente entre os estudantes”, afirma Lídia.

A pesquisa começou enquanto ela estava em sala de aula, como professora de escola estadual em Cabo Verde. “Enquanto professores da rede pública, a gente percebeu que tinha um desconhecimento da história cabo-verdense em relação aos seus processos históricos e raciais. Então, com os incentivos de leis municipais, culturais, a gente inscreveu propostas do documentário e do livro justamente para tentar reverter esse apagamento afroindígena da história da cidade”.

A antropóloga afirma que o objetivo agora é ter o livro e o vídeo usados como material didático.

Luís Eduardo Oliveira é mestre em História Ibérica, investigou cultura, poder e religião na escravidão no Sul de Minas, também é especialista em Ancestralidade e História. Ele afirma que o trabalho de pesquisa não se concluiu com o livro e o filme.

“A história de Cabo Verde, ela ganha novas perspectivas, são dimensões que precisam ser notadas, percebidas tanto pela população como pela autoridade. Nosso foco agora é lançar uma história em quadrinhos, dedicada ao público infantil das escolas de ensino fundamental”, afirma o professor.

Durante a solenidade de lançamento do livro, que contou com as presenças de autoridades municipais de Cabo Verde, surgiu a ideia de resgatar a memória do povo preto de Cabo Verde através de monumentos nos espaços de memória, no parquinho infantil e onde ficava a capela de Nossa Senhora do Rosário.

O vídeo “Quando bate a alfaia caiapó – Presença da (R) existência negra e indígena em Cabo Verde está disponível no youtube

Os trabalhos são registrados no Projeto Memora, um coletivo criado por Lídia e Eduardo em perfil no instagram https://www.instagram.com/projetomemora?igsh=MXFteW50bzUxaDRtOQ

E o livro pode ser adquirido aqui: https://hotmart.com/pt-br/marketplace/produtos/ancestralidade-e-memoria-a-construcao-da-cidade-de-cabo-verde-nas-dimensoes-nativas-e-quilombolas/F100207369G

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Estela Torres é jornalista pela Universidade de Alfenas e pós graduada em Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário do Sul de Minas. Está na Itatiaia Sul de Minas desde a instalação da emissora em Varginha, em 2009, atuando como produtora, repórter e apresentadora .