Um estudo da Universidade Monash, na Austrália, apontou que ouvir música na maior parte dos dias pode reduzir em até 39% o risco de desenvolver demência, incluindo Alzheimer. E, segundo a geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, isso ocorre porque o estímulo a música em várias partes do cérebro, incluindo as responsáveis por memória, atenção, emoção e linguagem, favorece a neuroplasticidade e pode fortalecer a reserva cognitiva, tornando o cérebro mais resistente aos efeitos das doenças neurodegenerativas.
“Ouvir música promove estímulos cognitivos, emocionais e sensoriais que beneficiam diretamente a saúde do idoso. A música pode melhorar o humor, reduzir a ansiedade, estimular a memória, facilitar a socialização e até auxiliar na organização de rotinas”, explicou a especialista.
“Além disso, há benefícios físicos diretos: em idosos com Doença de Parkinson ou com risco aumentado de quedas, a música pode ajudar a melhorar a marcha e a coordenação motora, favorecendo a mobilidade e a segurança. O ato de ouvir ou tocar música envolve múltiplas áreas cerebrais, contribuindo para a manutenção das funções cognitivas e motoras de forma integrada”, acrescentou.
Para pessoas de todas as idades, ouvir música promove a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, melhorando o humor e favorecendo a conexão entre diferentes circuitos neurais. “Em idosos, especialmente os com algum grau de comprometimento cognitivo, essa estimulação pode resgatar memórias e promover maior interação com o ambiente”, disse.
Ouvir música quando jovem pode impactar no futuro?
Segundo a médica, o hábito de ouvir música ao longo da vida contribui para a formação e manutenção da reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de compensar perdas estruturais ou funcionais por meio de circuitos alternativos.
“Pessoas expostas a estímulos musicais frequentes tendem a apresentar maior resistência ao declínio cognitivo. Embora o impacto seja cumulativo, é fundamental destacar que nunca é tarde demais para começar. Mesmo na velhice, o cérebro mantém certa capacidade de adaptação, e o benefício da neuroplasticidade permanece ativo. Portanto, iniciar esse hábito agora ainda pode trazer ganhos reais e significativos”, explicou a especialista.
Há algum tipo específico?
Há uma extensa lista de gêneros musicais existentes, para todos os gostos. Mas será que algum deles faz melhor para o cérebro?
Embora não haja comprovação, as músicas com valor afetivo costumam ter efeitos mais marcantes, afirmou Simone.
“Canções que fizeram parte da juventude ou de momentos importantes da vida tendem a evocar memórias mais fortes e positivas”, disse.
“A chave está na personalização. Aquilo que é relaxante para um, pode ser agitado ou desagradável para outro. A música deve ser encarada como uma ferramenta sob medida, ajustada de acordo com as preferências, histórico de vida e tolerância sensorial de cada pessoa. Timbres suaves e ritmos regulares costumam ser bem tolerados, mas a individualidade deve sempre ser respeitada”, completou.
Música não ajuda apenas na demência
A música tem aplicação terapêutica em diversas condições além da demência, conforme explicou a geriatra.
“Em pacientes com doença de Parkinson, pode auxiliar na coordenação motora e na reabilitação de marcha. Em quadros de depressão, ansiedade ou insônia, a música pode reduzir sintomas e melhorar a qualidade do sono. Também é usada no controle da dor e no suporte a pacientes em cuidados paliativos, promovendo conforto emocional”, explicou.
“Vale ressaltar que a Musicoterapia é a aplicação clínica estruturada desse recurso, conduzida por profissionais habilitados. Quando realizada por especialistas, essa abordagem segue critérios técnicos e éticos, conferindo maior segurança e eficácia à intervenção”, concluiu.