O mês de junho alerta para a conscientização e o tratamento precoce para escoliose, uma doença relativamente comum, que afeta até 4% da população mundial. Caracterizada pelo encurtamento da coluna causado por uma curvatura lateral, fazendo um formato de ‘C’ ou ‘S’, a escoliose atinge mais crianças e adolescentes do sexo feminino.
‘A coluna vertebral, quando olhamos uma pessoa de lado, apresenta curvaturas normais, chamadas de cifose e lordose. São curvas fisiológicas para distribuir as cargas através dos 4 segmentos da coluna: cervical, torácico, lombar e sacral. Mas quando olhamos uma pessoa de frente ou de costas, a coluna vertebral deve ser perfeitamente reta ou com mínimas curvas laterais. O termo escoliose é usado para as curvas anormais (não fisiológicas) da coluna quando avaliamos o paciente de frente ou de costas’, explica o médico Marco Tulio Reis, especialista em Neurocirurgia e Cirurgia da Coluna Vertebral do Hospital Vila da Serra do grupo Oncoclínicas.
Dados e internações
O Ministério da Saúde informou que, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares e Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2023, foram realizadas 1.422 internações relacionadas à escoliose no Brasil. De janeiro a março de 2024, foram realizadas 370.
No âmbito ambulatorial, foram realizados 264.429 procedimentos pela mesma causa em 2023. Já no primeiro trimestre deste ano, foram registrados 58.067 procedimentos.
'É importante reforçar que os números relacionados às internações e aos procedimentos ambulatoriais não são referentes ao número de pessoas atendidas, mas sim ao número de procedimentos realizados. Dessa forma, o mesmo indivíduo pode ter feito mais de um procedimento ou ter sido internado mais de uma vez’, destaca a pasta, em nota.
Considerada relativamente comum, a Escoliose Idiopática do Adolescente (forma mais frequente de escoliose que incide em crianças e adolescentes) apresenta uma prevalência que varia de 2 a 4% nos estudos populacionais. ‘O que significa que se realizarmos radiografias de coluna em 100 adolecentes / pré-adolescentes saudáveis e sem sintomas, cerca de 3 terão curvaturas escolióticas nos exames’, afirma o neurocirurgião.
Qual a faixa etária mais afetada?
A Escoliose Idiopática do Adolescente em geral acomete crianças e adolescentes entre 10 e 18 anos e é mais frequente no sexo feminino. Mas existem outras causas de escoliose que incidem em crianças ou idosos. Outros dois exemplos da doença são: a Escoliose Neuromuscular que acomete crianças mais jovens que são portadoras de doenças neurológicas como a paralisia cerebral; e a Escoliose Degenerativa do Adulto que acomete adultos e idosos devido ao desgaste da coluna pelo envelhecimento.
Causas e fatores genéticos
Na Escoliose Idiopática do Adolescente, as causas exatas ainda não são bem compreendidas, por isso é considerada idiopática. Existem teorias sobre fatores genéticos, desequilíbrio muscular, crescimento assimétrico do esqueleto, dentre outras. Já a Escoliose Neuromuscular e Degenerativa do Adulto é secundária à doença de base, com relação de causa e efeito mais bem estabelecida.
Sintomas
Em geral a escoliose permanece assintomática até que progridam para curvas mais acentuadas (acima de 25 graus). ‘Nesse caso em geral manifestam-se por deformidades estéticas percebidas pelos pais ou mesmo pelo paciente. Em casos severos pode causar dor, fraqueza dos membros e até problemas respiratórios’, explica o especialista.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser feito pelo exame clínico no consultório e confirmado por métodos de imagem, sendo a radiografia panorâmica de coluna o método mais utilizado.
Tratamento
No caso da Escoliose Idiopática do Adolescente, o tratamento depende da magnitude da curva. Em geral, curvas de 10 a 25 graus o tratamento é de forma conservadora, orientada pela prática de exercícios e seguimento com consultas e exames seriados. Curvas entre 25 e 45 graus já necessitam de seguimento mais próximo, técnicas fisioterápicas diversas (RPG, pilates, entre outros) e em casos selecionados, uso de coletes pode estar indicado apesar da sua prescrição ainda ser muito controversa na literatura.
‘A indicação cirúrgica depende muito do tipo de escoliose e da presença de sintomas. Mas em geral é indicada apenas para as grandes curvas escolióticas. Por exemplo, para Escoliose Idiopática do Adolescente, que em geral é assintomática, a cirurgia em geral é recomendada para curvaturas maior que 40-45 graus’, destaca o Membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
*Sob supervisão de Lucas Borges