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Diagnóstico errado de TDAH em crianças: pesquisa confirma apenas 7% dos casos estudados

Mais de 2 milhões de pessoas sofrem com o transtorno no Brasil

Especialista aponta para o uso excessivo de medicamentos no tratamento do TDAH e defende um cuidado com intervenções psicossociais

O resultado de uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) ascende o debate sobre diagnóstico errado de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças. O estudo, feito em 2022, concluiu que 3 de 43 casos, 7% do total pesquisado, tiveram o transtorno confirmado. O alerta foi dado pela doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) , Anaísa Leal Barbosa Abrahão, em entrevista ao Jornal USP.

“Realizamos uma pesquisa na USP em 2022 e, ao avaliarmos 43 crianças com diagnóstico médico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, apenas três preencheram os critérios para TDAH ao serem submetidas a escalas específicas.”

A doutora ainda indicou um uso generalizado de metilfenidato, um dos principais medicamentos usados no tratamento do TDAH. “Dos 43 participantes, a maioria fazia uso desse medicamento, sem apresentar melhorias significativas nos sintomas principais do transtorno ou nos problemas de comportamento relatados por familiares e professores.”

Dados da Associação Brasileira de Déficit de Atenção (ABDA) apontam que cerca de 2 milhões de pessoas sofrem com o transtorno no Brasil.

Anaísa explica que o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização, hiperatividade e impulsividade, que afeta diversas áreas da vida. A especialista ressalta que seu início é geralmente na infância, mas pode persistir até a vida adulta.

Ela destaca inda não existir consenso sobre a origem do TDAH. “Alguns estudos sugerem que fatores tanto ambientais quanto genéticos podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno”, explica.

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Neurologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP, Alicia Coraspe lembra que são três tipos de TDAH existentes: hiperativo/impulsivo, desatento e misto/combinado.

“No caso de pessoas com TDAH hiperativo/impulsivo, os indivíduos costumam ser inquietos, falam muito e interrompem constantemente. Já as pessoas com TDAH do tipo desatento cometem erros por falta de atenção e apresentam dificuldade para organizar tarefas e atividades”, detalha a especialista. Já o tipo misto/combinado, conforme o nome indica, mistura sintomas de desatenção com hiperatividade e impulsividade.

A médica destaca ainda que, na infância, o transtorno geralmente se apresenta de forma combinada, com características de hiperatividade e desatenção. Já entre os adultos, o tipo mais predominante é o de desatenção.

“Compreender os sintomas do TDAH e suas variações ao longo das diferentes faixas etárias é fundamental para um diagnóstico preciso e menos estigmatizado”, enfatiza.


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Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.