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Cólera no Brasil: quando não tratada, mortalidade da doença chega a 50%

Primeiro caso de cólera por transmissão autóctone foi confirmado pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira (19)

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Com o primeiro caso de cólera por transmissão autóctone confirmado no Brasil após 18 anos de erradicação, grande parte da população está pouco familiarizada com a doença. Por isso, é importante destacar que a cólera é, muitas vezes, assintomática, cerca de 25% dos infectados costumam apresentar sintomas e apenas 5% desenvolvem sintomas graves.

Em 2021, a Organização Mundial de Saúde afirmou que 2% dos casos confirmados evoluíram para óbito, e que esse percentual se manteve nos anos de 2022 e 2023. Apesar da baixa taxa de mortalidade, conforme o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, sigla em inglês), quando a cólera não é tratada adequadamente, a taxa de óbito pode chegar até 50% dos casos.

Mesmo que os dados possam gerar preocupação, a população brasileira não precisa temer uma contaminação crescente da doença. Conforme o infectologista Cristiano Galvão, da Oncoclínicas, ainda é cedo para se falar em surto porque o Brasil registrou apenas um caso.

“Gera uma preocupação porque a gente já estava há um tempo sem ter casos de cólera confirmados. Com esse primeiro caso, realmente acende o alerta para focarmos na questão do saneamento básico. Mas é muito precoce falar em risco de surto. Isso serve para a gente ficar atento e tentar identificar como aconteceu a contaminação para impedir que a doença se alastre”, pontua.

Transmissão

Segundo o Ministério da Saúde, a transmissão da cólera acontece pela via fecal-oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados, ou pela contaminação pessoa a pessoa. Os alimentos podem ser contaminados ainda na fase de produção ou quando já estão prontos.

Confira condições que facilitam a infecção:

  • Condições precárias de saneamento básico;
  • Consumo de água sem tratamento adequado;
  • Condições precárias de higiene pessoal;
  • Consumo de alimentos sem higienização ou manipulação adequadas;
  • Consumo de peixes e mariscos crus ou mal cozidos.

Principais sintomas

Segundo Galvão, os principais sintomas da cólera são:

  • Diarreia (que pode ser leve ou grave, com perda importante de água);
  • Náuseas e vômitos;
  • Febre baixa;
  • Cólicas abdominais;
  • Desidratação;
  • Queda de pressão arterial;
  • Pele seca

O Ministério da Saúde afirma que, nos casos graves, mais típicos, o início é súbito. O paciente apresenta diarreia aquosa, abundante, de difícil controle e com inúmeros episódios diários. Nessa situação, o infectado chega a perder de 1 a 2 litros de água por hora, o que leva a pessoa a um quadro de desidratação intensa rapidamente.

Possíveis complicações

A pasta ainda alerta para a possibilidade de possíveis complicações da cólera, causadas pelo esgotamento físico do corpo, após um grande volume de diarreia e vômitos. As complicações são mais comuns em pessoas mais vulneráveis, como idosos, diabéticos, desnutridos, portadores do vírus HIV e cardiopatas.

Se não tratada adequadamente, a desidratação pode levar o paciente à deterioração progressiva da circulação, da função renal e do equilíbrio de água e minerais no corpo, causando dano a todos os sistemas do organismo e levando a morte.

As complicações mais comuns são:

  • choque hipovolêmico (diminuição da quantidade de sangue circulante no corpo);
  • necrose renal;
  • fraqueza intestinal;
  • queda de potássio no sangue, levando a arritmias cardíacas;
  • hipoglicemia, com convulsões e coma em crianças;
  • Em gestantes, o choque hipovolêmico pode induzir a ocorrência de aborto e parto prematuro.

Prevenção

O infectologista Cristiano Galvão explica que a prevenção é relacionada ao saneamento básico. “A higienização adequada dos alimentos, o consumo de água tratada, a higienização das mãos e o preparo correto dos alimentos são medidas mais indicadas para a prevenção”, afirma

Tratamento

O tratamento da cólera é fundamentalmente feito com a reposição de água e sais minerais. Nos casos mais graves, o médico afirma que o paciente deve receber a hidratação por via endovenosa e é indicado o uso de antibióticos.

“A gente tem antibióticos disponíveis para combater a bactéria que vão reduzir o tempo da infecção. Então, esse tratamento é feito geralmente em regime hospitalar através do uso de antibióticos e de hidratação endovenosa”, esclarece Galvão.

Cólera tem vacina

Além de higienizar corretamente os alimentos e beber água tratada, uma outra forma de prevenir a doença é pela vacinação. Porém, os imunizantes só são aplicados em áreas endêmicas, onde existe um número considerável de infecções.

“A vacina é muito eficaz. Ela tem uma ação em torno de 80% a 85% de proteção. Só que é uma vacina em que o efeito diminui muito ao longo do tempo. Então, ela requer uma vacinação frequente, até com períodos mais curtos. Por isso, atualmente é uma vacina indicada para populações onde há um surto de cólera, ou regiões com casos endêmicos e frequentes. Ela não é uma vacina aplicada de rotina em locais onde não tem casos significativos aí da doença”, explica o infectologista.

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Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento
Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.