‘Bebês Ozempic’? Ginecologista explica se remédios para emagrecer cortam anticoncepcional

Caso da ex-BBB Laís Caldas levantou dúvidas sobre a eficácia da pílula durante o uso de Mounjaro

Casamento de Laís Caldas e Gustavo Marsengo

A ex-BBB Laís Caldas revelou que engravidou mesmo fazendo uso regular de anticoncepcional. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, ela explicou que, antes do casamento com Gustavo Marsengo, também ex-participante do reality, iniciou o uso do medicamento Mounjaro, indicado para o tratamento da obesidade e perda de peso.

Segundo Laís, o remédio pode ter interferido na absorção da pílula anticoncepcional, o que teria resultado na gravidez. O relato passou a ser associado, nas redes sociais, ao fenômeno conhecido como “bebês Ozempic”, expressão usada para casos semelhantes envolvendo medicamentos dessa classe.

Mas esses remédios realmente podem reduzir o efeito do anticoncepcional? Para esclarecer a questão, a reportagem da Itatiaia conversou com Gisele Maciel, ginecologista e obstetra, mestre em Saúde da Criança e da Mulher, que tirou as principais dúvidas sobre o tema.

Medicamentos como as canetas emagrecedoras podem reduzir a eficácia do anticoncepcional oral? E outros?

R: As chamadas canetas emagrecedoras, em especial os análogos do GLP-1, não inativam diretamente o hormônio do anticoncepcional oral, mas podem, em algumas situações, reduzir sua eficácia de forma indireta. Esses medicamentos retardam o esvaziamento gástrico e podem causar náuseas, vômitos ou diarreia, especialmente nas fases iniciais do tratamento ou durante ajustes de dose. Quando o comprimido anticoncepcional não é adequadamente absorvido pelo trato gastrointestinal — seja por vômito pouco tempo após a ingestão ou por diarreia intensa — a proteção contraceptiva pode ficar comprometida. Outros medicamentos também não “cortam” o efeito do anticoncepcional, mas interferem na absorção ou no metabolismo hormonal, o que pode reduzir a eficácia.

No caso relatado pela Laís Caldas, qual é a explicação médica mais provável? Casos como esse são raros?

R: Do ponto de vista médico, a explicação mais plausível em situações como a relatada é a falha contraceptiva associada a fatores que prejudicam a absorção da pílula, como episódios de vômitos ou diarreia relacionados ao uso de medicamentos para emagrecimento, ou mesmo uso irregular do anticoncepcional. A pílula anticoncepcional é eficaz quando utilizada corretamente, mas não é infalível. Gravidez em uso de pílula é incomum, porém possível, especialmente quando há interferências gastrointestinais ou esquecimento de comprimidos. Portanto, não se trata de algo frequente, mas tampouco é excepcional na prática clínica.

Como a pílula anticoncepcional funciona no organismo para evitar a gravidez, e o que pode interferir nesse mecanismo de proteção?

R: A pílula anticoncepcional atua principalmente inibindo a ovulação, ou seja, impedindo que o ovário libere um óvulo. Além disso, ela torna o muco do colo do útero mais espesso, dificultando a passagem dos espermatozoides, e modifica o endométrio, reduzindo a chance de implantação. Para que esse mecanismo funcione adequadamente, é fundamental que os hormônios sejam absorvidos diariamente em quantidade suficiente. Esquecimentos, atrasos frequentes, vômitos, diarreia, algumas doenças intestinais e interações medicamentosas podem comprometer esse processo e reduzir a proteção.

Quais tipos de remédios ou substâncias são mais conhecidos por interferir na eficácia do anticoncepcional?

R: Os medicamentos mais classicamente associados à redução da eficácia do anticoncepcional oral são alguns anticonvulsivantes, certos antibióticos específicos — como a rifampicina —, medicamentos usados no tratamento da tuberculose, alguns antirretrovirais e fitoterápicos como a erva-de-São-João. Além deles, qualquer substância ou condição que provoque vômitos ou diarreia importantes pode interferir na absorção da pílula. No caso das canetas emagrecedoras, a interferência ocorre justamente por esse mecanismo indireto gastrointestinal.

Existe diferença de risco entre anticoncepcional oral, injetável, DIU e implante nesse contexto?

R: Sim. Métodos que não dependem da absorção pelo trato gastrointestinal, como o anticoncepcional injetável, o implante subdérmico e o DIU, não sofrem interferência de vômitos, diarreia ou alterações do esvaziamento gástrico. Por isso, nesses contextos, eles oferecem uma proteção mais estável. O anticoncepcional oral é mais sensível a falhas relacionadas ao uso incorreto ou a problemas digestivos, enquanto métodos de longa duração apresentam taxas de falha muito menores na prática clínica.

Mulheres que usam canetas emagrecedoras devem trocar o método contraceptivo?

R: Não existe uma recomendação única e obrigatória para troca de método, mas é importante uma avaliação individualizada. Mulheres que utilizam canetas emagrecedoras e apresentam sintomas gastrointestinais frequentes, dificuldade de adesão à pílula ou desejam maior segurança contraceptiva podem se beneficiar de métodos que não dependem da via oral. Essa decisão deve ser tomada em conjunto com a ginecologista, considerando o perfil de saúde, o planejamento reprodutivo e as preferências da paciente, sempre com acompanhamento médico adequado.

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Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.

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