O médico brasileiro Leonardo Riella liderou o primeiro transplante bem-sucedido de um rim de porco para um ser humano em Boston, nos Estados Unidos, anunicou o Massachusetts General Hospital (MGH) nesta quinta-feira (20).
Apesar de ser o primeiro transplante de rim de porco feito em um humano vivo, não é o primeiro procedimento que transplanta órgãos de animais em corpos humanos.
O campo está em constante crescimento e o procedimento, realizado no último sábado (16),
O pioneiro
O paciente do procedimento inovador já havia passado por um transplante de rim humano anteriormente, mas o órgão começou a falhar no ano passado.
O homem de 62 anos tem uma doença renal em estágio terminal e está se recuperando bem após o transplante, segundo o hospital. Desde o procedimento, ele não está em diálise.
O rim de porco foi geneticamente modificado para melhorar sua compatibilidade com humanos e eliminar riscos de infecção, segundo os médicos.
O paciente já havia passado por um transplante de rim humano anteriormente, mas o órgão começou a falhar em 2023.
Diante do quadro, os médicos sugeriram o transplante de rim de porco, explicando os prós e contras do procedimento.
“Eu vi isso não apenas como uma forma de me ajudar, mas também como uma forma de dar esperança às milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver”, diz o paciente Richard ‘Rick’ Slayman, em comunicado.
Esse tipo de transplante pode ser uma esperança para milhões de pacientes ao redor do mundo que sofrem de insuficiência renal e precisam de transplante com urgência.
Segundo a Rede Unida para Compartilhamento de Órgãos (UNOS), mais de 100 mil pessoas nos EUA aguardam um órgão e 17 pessoas morrem todos os dias à espera do transplante.
O rim é o órgão mais requisitado. Estima-se que as taxas de doença renal em estágio terminal aumentem de 29% a 68% nos EUA até 2030.
Como um rim de porco se torna compatível ao corpo humano?
Segundo o hospital, o rim de porco sofreu 69 edições genômicas para ser transplantado em um humano vivo. O animal passou por um procedimento que usa uma tecnologia para remover genes suínos prejudiciais ao corpo e adicionar genes humanos no lugar.
Os cientistas inativaram retrovírus presentes no doador suíno para eliminar qualquer risco de infecção no paciente. Nos últimos cinco anos, o MGH e a eGenesis conduziram extensas pesquisas na área de xenotransplante - processo de transplantar órgãos de animal para humanos. As descobertas foram publicadas na revista Nature em 2023.
“Existem vários centros no mundo que estão modificando geneticamente os suínos para que eles possam ser doadores de órgãos para humanos”, explica Elias David Neto, nefrologista do Hospital Sírio-Libanês, à CNN.
“A novidade agora é que os médicos norte-americanos colocaram em uma pessoa viva que estava em diálise um rim de porco geneticamente modificado, o que é um grande avanço”, comenta o especialista.
No entanto, ele explica que os riscos envolvidos no experimento só ficaram claros quando os resultados práticos estiverem disponíveis. Os estudos anteriores foram feitos em primatas.
“Só saberemos o que vai dar certo e o que vai dar errado a partir de novos experimentos como esse. Existem hormônios e substâncias que são produzidos após o transplante que precisamos entender se vão funcionar”, disse David Neto. “O que já sabemos de estudos feitos em primatas não humanos foi útil, mas têm questões que acontecem com esses primatas que podem não ocorrer em humanos”, completa.
Segundo o especialista, as drogas que estão sendo utilizadas para evitar a rejeição do órgão suíno são as mesmas utilizadas no tratamento do transplante de rim humano.
Precedentes
Outros experimentos já foram realizados anteriormente.
Os primeiros estudos na área foram realizados em primatas, que receberam órgãos suínos geneticamente modificados.
Os estudos foram encerrados por não apresentar perspectivas de avanço, tornando-se necessário iniciar os experimentos com pessoas.
Diante disso, foram realizados dois transplantes de coração de porco em pessoas vivas.
O primeiro caso foi de um homem de 57 anos de Maryland, nos Estados Unidos, que recebeu o coração suíno geneticamente modificado em 2022.
Ele sofria de uma doença cardíaca terminal e o órgão era “a única opção disponível” na época, de acordo com comunicado divulgado pela Escola de Medicina da Universidade de Maryland.
Em 2023, um segundo paciente passou pelo mesmo transplante, também conduzido por médicos da Universidade de Maryland. O homem de 58 anos viva com uma doença cardíaca em estágio terminal e havia sido considerado inelegível para um transplante tradicional.
Anos antes, em 2021, foi realizado o primeiro transplante de rim de porco em humano, mas em uma paciente que havia sofrido morte cerebral com sinais de disfunção renal. Por três dias, o novo rim foi ligado às suas veias e mantido do lado de fora de seu corpo, o que garantiu acesso aos pesquisadores.
O transplante de rim suíno realizado pelo brasileiro Dr. Leonardo Riella foi o primeiro em um receptor vivo, representando um marco histórico e “uma potencial solução para a escassez mundial de órgãos”, segundo o MGH.
*Com informações da CNN