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Pesquisa de Harvard Expõe Como Mulheres Sofrem com o Entusiasmo Profissional

Paixão no trabalho ajuda homens, mas atrapalha mulheres. Pesquisa de Harvard revela viés de gênero e aponta caminhos para mudanças reais.

Pesquisa de Harvard Expõe Como Mulheres Sofrem com o Entusiasmo Profissional

O impacto silencioso revelado pela pesquisa

Acabei de mergulhar em uma pesquisa da Harvard Business School que traz algo incômodo, mas importante de reconhecer. O estudo mostra que demonstrar paixão no trabalho eleva carreiras masculinas e, ao mesmo tempo, torna o avanço profissional das mulheres mais difícil. É aquele tipo de dado que a gente relê duas vezes para ter certeza de que entendeu direito.

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Dados que desafiam o senso comum

A pesquisa saiu na revista Organization Science e foi detalhada pelo Wall Street Journal. O levantamento acompanhou mais de 4 mil profissionais de uma empresa de engenharia nos Estados Unidos. Além disso, a equipe realizou experimentos com 2 mil pessoas avaliando vídeos de funcionários demonstrando entusiasmo. O resultado chama atenção: homens com paixão pelo trabalho receberam entre 20% e 30% mais chances de serem apontados como “alto potencial” para programas de liderança. Já as mulheres, mesmo com igual dedicação, ficavam para trás na fila.

Diferenças que se acumulam

Pesquisa de Harvard Expõe Como Mulheres Sofrem com o Entusiasmo Profissional

Na prática, 38% dos homens foram classificados como talentos promissores, enquanto apenas 30% das mulheres alcançaram essa marca. A distância não surge de acaso. Os autores como Joyce He e Jon Jachimowicz, apontam estereótipos de gênero como raiz do problema. Ainda persiste a ideia de que entusiasmo masculino representa ambição legítima, enquanto nas mulheres vira sinônimo de excesso de emotividade. São visões antigas que resistem em ambientes corporativos contemporâneos.

Viés de segunda geração e consequências reais

O estudo também apresenta o chamado “viés de segunda geração”, expressão usada para definir preconceitos sutis que interferem nas avaliações de desempenho. São comentários ambíguos, elogios que chegam junto com ressalvas, desconfiança velada diante de mulheres que falam com brilho nos olhos. Esse viés não é pequeno. Ser indicado como “alto potencial” abre portas estratégicas: mentorias, acesso a projetos importantes e a chance de desenhar um futuro executivo. Quando esse índice cai de 38% para 30%, as trajetórias se tornam mais difíceis.

Mulheres que inspiram no cinema e na cultura

Esse tema me fez lembrar histórias conhecidas. Miranda Priestly, em O Diabo Veste Prada, virou sinônimo de frieza. Sua forma contida de liderar nasceu da necessidade de não demonstrar emoções. Já Erin Brockovich, papel de Julia Roberts, enfrentou olhares desconfiados ao unir intensidade e competência. As duas personagens revelam lados distintos de uma mesma pressão: a de caber em expectativas contraditórias. Paixão feminina ainda carrega julgamentos que não costumam existir para homens.

Caminhos possíveis para romper o ciclo

Entre as propostas do estudo, algumas soluções parecem simples, mas exigem compromisso verdadeiro. Padronizar critérios de avaliação, treinar líderes para reconhecer estereótipos, auditar feedbacks e criar processos anônimos na seleção de talentos são práticas que podem fazer diferença. Empresas que se comprometem com mudanças reais fortalecem culturas mais justas e produtivas. Isso não é discurso vazio. São ações capazes de transformar vidas profissionais.

Reflexões sobre o futuro do trabalho

O levantamento da Harvard Business School não apenas ilumina desigualdades antigas, mas também convida líderes a refletir sobre modelos de gestão. Paixão deveria ser qualidade reconhecida em qualquer colaborador. Ninguém deveria segurar entusiasmo para não parecer frágil ou exagerado. A força de um ambiente saudável mora na capacidade de valorizar competências de maneira transparente. Sem atalhos e sem concessões seletivas.

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Profissional de Comunicação. Head de Marketing da Metalvest. Líder da Agência de Notícias da Abrasel. Ex-atleta profissional de skate. Escreve sobre estilo de vida todos os dias na Itatiaia e na CNN Brasil.