Em novo trecho de seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta segunda-feira (14), o tenente-coronel Mauro Cid detalhou encontros, mensagens e movimentações relacionadas aos bastidores das eleições de 2022. Durante a audiência conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, vieram à tona episódios que envolvem suposto monitoramento de autoridades, repasse de recursos a militares e articulação de reuniões com membros das Forças Armadas.
Moraes mencionou a mensagem enviada pelo coronel Marcelo Câmara sobre o paradeiro da “professora”, termo utilizado, segundo o ministro, como código para se referir a ele próprio. A defesa de Câmara, representada por Kuntz, afirmou que foi Cid quem usou o apelido e que o coronel apenas respondeu, citando que o ministro estava em São Paulo, com base em informações disponíveis em fontes abertas. Kuntz sustentou que seu cliente não tinha acesso ao endereço de Moraes.
Cid confirmou que, anteriormente, entre os dias 12 e 16 de dezembro, houve um primeiro monitoramento relacionado à operação Punhal Verde e Amarelo, a pedido do major De Oliveira. Ele afirmou, porém, que não acredita que o coronel Câmara soubesse desse movimento.
Ainda no depoimento, Cid descreveu uma reunião realizada em novembro de 2022, inicialmente planejada para ocorrer no Palácio da Alvorada, mas transferida para a residência do general Braga Netto, em Brasília. O encontro foi marcado após conversa com o coronel Ferreira Lima e o major De Oliveira, durante um evento no hotel de trânsito em Goiânia. Segundo Cid, a reunião teve tom de “desabafo político”, com críticas ao resultado das eleições, mas ele se retirou antes do término do encontro.
Posteriormente, o major De Oliveira procurou Cid solicitando recursos financeiros. Em mensagens trocadas entre os dois, o militar pergunta o que Cid havia achado da reunião, mas o ex-ajudante respondeu que havia se ausentado. Na sequência, houve o pedido de verba. Cid sugeriu um valor de R$ 100 mil e buscou o montante com Braga Netto, após tentativa frustrada com o partido. Segundo ele, Braga Netto foi quem efetivamente entregou o dinheiro, que Cid então repassou ao major De Oliveira.
Questionado por Moraes sobre a movimentação de pessoas para Brasília nos dias que antecederam os ataques de 8 de janeiro, Cid disse que não imaginava que se tratavam de mobilizações para ações de campo. “Achei que eram apenas pessoas vindo para a capital”, declarou.