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Dino rejeita argumento de líder do PL sobre acordo de emendas e pede manifestação do Congresso

Ministro havia determinado que Sóstenes Cavalcante prestasse informações sobre suposta regra para divisão de emendas na Câmara

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal

O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou nesta sexta-feira (2) o a rgumento da imunidade parlamentar usado pelo líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), para não esclarecer um suposto acordo para divisão de emendas parlamentares na Casa.

Dino também deu cinco dias para que o governo, o Congresso e a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestem sobre as declarações do deputado.

Em entrevista ao jornal O Globo, Sóstenes afirmou que poderia romper um pacto com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pressioná-lo a pautar o projeto que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.

De acordo com o líder do PL, o acordo prevê que 30% do valor total das emendas de comissão fiquem com o partido que preside o colegiado e os outros 70%, sejam repassados por Motta às outras legendas.

No domingo (27), Flávio Dino determinou que o parlamentar prestasse informações sobre o acordo, já que, uma vez verdadeiras, as declarações poderiam indicar que a distribuição de emendas de comissão estaria novamente contrariando a lei que estabelece regras de transparência e rastreabilidade aos recursos.

Mas, em resposta ao ministro, Sóstenes disse que está protegido pela imunidade parlamentar e, portanto, não tem a obrigação de esclarecer o acordo.

Segundo Dino, o argumento não é válido, já que Sóstenes não foi questionado sobre “opiniões, palavras e votos” e também não foi convocado na condição de testemunha. Ele mencionou sua experiência como deputado e senador e declarou que a imunidade não se estende “a possíveis crimes contra o patrimônio público”.

“Como a opção do Congresso Nacional foi pelo estabelecimento de regras do devido processo orçamentário na Constituição, inexiste validade em ‘acordos’ ou em ‘quebras de acordos’ que não sejam compatíveis com as normas de regência. Consoante enunciado enfaticamente, são inaceitáveis quaisquer ‘orçamentos secretos’, sob velhas ou novas roupagens”, escreveu o ministro.

Dino destacou ainda que o esclarecimento sobre a divisão das emendas é “fundamental”, já que “se cuida de dezenas de bilhões de reais de dinheiro público, não podendo reinar sigilos de quaisquer espécies, consoante reiteradamente decidido pelo Plenário do STF”.

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Repórter de política em Brasília. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), chegou na capital federal em 2021. Antes, foi editor-assistente no Poder360 e jornalista freelancer com passagem pela Agência Pública, portal UOL e o site Congresso em Foco.