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Itatiaia explica: o que é Reforma Tributária?

Em discussão por mais de três décadas, proposta muda sistema de cobrança de impostos no país

Mudanças no sistema de cobrança de impostos foi aprovada após 30 anos de discussão

Após 30 anos de debate, o Brasil finalmente promulgou a Reforma Tributária. A expectativa é de um impacto positivo em toda a cadeia da economia brasileira, incluindo consumo e renda. Essa mudança vai simplificar e unificar os impostos sobre o que os brasileiros compram — mas não vai ser de uma vez. A Itatiaia explica, a partir de agora, o que é a Reforma Tributária.

Caro leitor, a Reforma Tributária é, nada mais nada menos, que a transformação do sistema de cobrança de impostos no país. Imagine que toda a cadeia de consumo seja um jogo. Os impostos são as principais regras deste desafio. E a Reforma Tributária é justamente a mudança do regulamento. Ou seja, a ideia é tornar o jogo, em tese, mais justo e equilibrado.

No caso dos impostos, o governo cobra dinheiro dos consumidores e das empresas para financiar serviços públicos (saúde, educação e segurança, por exemplo). A reforma acontece quando o Poder Público decide mudar as regras sobre como esses impostos são cobrados.

Em suma, a reforma tributária é um ajuste das regras dos impostos para que todos contribuam de forma mais justa e para que o sistema seja mais eficiente e fácil de entender.

As novas regras para taxar produtos e serviços que usamos só vão começar a valer em 2026 e vão continuar mudando até 2033. E olha só, a forma como o imposto é cobrado, baseado no lugar onde a gente usa as coisas, vai começar a mudar em 2029. Essa mudança vai levar bastante tempo, uns 50 anos, e só vai terminar lá em 2078. Ou seja, vai demorar um tempinho até que a gente veja todas essas mudanças acontecendo de vez.

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E como vai funcionar?
Em vez de vários impostos diferentes, teremos um chamado Imposto sobre Valor Agregado, ou simplesmente, IVA. Esse é um modelo semelhante ao adotado em outros países, como Canadá, Austrália, nações da União Europeia e a Índia.

Mas por aqui teremos o “IVA dual”, que é como se fosse dividido em dois, cada um cuidando de coisas diferentes na arrecadação. No governo federal, PIS, Cofins e IPI vão ser agrupados numa coisa chamada Contribuição sobre Bens e Serviços, ou CBS. Isso é o IVA do governo federal.

Já o ICMS, que é estadual, e o ISS, que é municipal, vão ser reunidos num Imposto sobre Bens e Serviços, o IBS. Isso é o IVA do governo estadual. E aí, essa mudança toda vai começar a valer quando as autoridades decidirem implementar essas novas regras.

O IVA dual, que é esse imposto que vai cuidar de várias coisas, vai ter uma regra geral que diz que a alíquota, que é a porcentagem do imposto, é a mesma para todo mundo. No entanto, alguns setores vão ter uma redução de 60% nessa porcentagem. Ou seja, vão pagar menos imposto. E tem ainda outros segmentos que não vão ter que pagar nada de imposto, a alíquota vai ser zerada para eles.

Ah, e tem uma parte importante: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que é o documento que propõe essas mudanças, não fala exatamente quanto vai ser essa porcentagem para cada setor. Esses detalhes vão ser decididos mais pra frente, numa outra lei especial. O Ministério da Fazenda vai fazer cálculos para definir esses números. Resumindo, ainda falta acertar esses detalhes, mas a ideia é dar uma alívio nos impostos para alguns e aumentar para outros, como no caso de cigarro e bebidas, que vão pagar mais.

E quais são os setores que devem ter alívio nas alíquotas?
Nesse primeiro momento, o Congresso Nacional tratou da primeira parte da reforma, que é relativa à cobrança dos impostos sobre consumo (o que se vende e o que se compra). Esta é só a primeira parte da reforma, que trata dos impostos cobrados sobre o consumo.

A tributação da renda será objeto de uma segunda etapa da reforma. Os setores que vão ter redução de 60% na cobrança de impostos são de atividades ligadas à saúde, educação, transporte coletivo, produtos agropecuários e até parques de diversões.

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Como vai ficar a cesta básica?
Com a Reforma Tributária, a ideia é que a cesta básica de alimentos fique livre de impostos. No começo, tinha uma preocupação de que os impostos sobre esses alimentos pudessem aumentar em cerca de 60%, o que gerou críticas. Mas o texto que foi aprovado na Câmara dos Deputados incluiu a criação de uma nova cesta básica nacional e essa vai ser totalmente livre de impostos.

O que vai entrar nessa cesta básica especial ainda não está definido, isso vai ser decidido mais tarde com outra lei. O Senado até pensou em fazer uma cesta básica mais ampla, mas essa ideia não foi mantida no texto final. Resumindo, a ideia principal é tirar os impostos da cesta básica de alimentos para ajudar a população.

O que muda no IPVA, IPTU e herança?
A ideia é que o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) possa ter porcentagens diferentes dependendo de critérios ambientais. Ou seja, se você tem um carro amigo do ambiente, pode ser que pague menos IPVA no futuro.

Agora, caro leitor, se você tem ou quer comprar um jatinho, lancha ou iate, a reforma fala sobre a chance de cobrar IPVA deles. Mas, calma, as porcentagens que você vai pagar ainda vão ser decididas mais tarde, em outra lei.

Já sobre o IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana), a mudança é a possibilidade da prefeitura atualizar o valor dos imóveis por meio de um decreto. A prefeitura pode decidir aumentar ou diminuir o valor do imposto de casa dependendo do valor do imóvel.

No imposto sobre heranças e doações (ITCMD), a ideia é cobrar mais impostos se a herança ou doação for de um valor alto. Isso também pode se aplicar às heranças no exterior. Mas houve uma mudança de última hora na lei que faz com que organizações ligadas a igrejas não paguem impostos. Ou seja, se você herdar algo muito caro, pode ser que pague mais imposto do que se for algo mais modesto.

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E o ‘imposto do pecado’, o que é?
Na Reforma Tributária, essa proposta visa aumentar os impostos sobre produtos que têm impactos negativos, como cigarros, bebidas alcoólicas e alimentos ultraprocessados, muitas vezes associados a problemas de saúde. A ideia por trás do “imposto do pecado” é desencorajar o consumo desses produtos prejudiciais ao mesmo tempo em que gera receitas adicionais para o governo, que podem ser direcionadas para áreas como saúde e educação.

E o que é ‘cashback’?

A reforma propõe a ideia de devolver um pedacinho do imposto que as pessoas pagam, chamado de “cashback” (tipo um dinheiro de volta). Mas como isso vai funcionar exatamente ainda não está decidido. Esses detalhes serão definidos mais para frente, em outra lei.

A razão principal é dar um alívio nos impostos para as famílias que não têm tanta grana. Inicialmente, tentaram colocar critérios sobre gênero e raça na lei, mas essa ideia acabou não sendo aceita no texto final que foi aprovado na Câmara dos Deputados. Resumindo, querem dar um dinheiro de volta em impostos, mas como e quem vai receber ainda vai ser decidido mais tarde.

É jornalista formado pela Universidade de Brasília (UnB). Cearense criado na capital federal, tem passagens pelo Poder360, Metrópoles e O Globo. Em São Paulo, foi trainee de O Estado de S. Paulo, produtor do Jornal da Record, da TV Record, e repórter da Consultor Jurídico. Está na Itatiaia desde novembro de 2023.