Cerca de seis horas após o início da sessão para leitura do parecer da relatora Eliziane Gama (PSD-MA), o presidente Arthur Maia (União-BA) suspendeu, nesta terça-feira (17), os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos. A reunião recomeçará na quarta-feira (18) às 9h para votação do relatório. Se aprovado, o documento será entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR), à Advocacia-Geral da União (AGU) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Após o encerramento da sessão, Eliziane assinalou que entregará o relatório em mãos para a procuradora-geral interina, Elizeta Ramos.
No calhamaço com mil e trezentas páginas, a parlamentar se debruçou sobre os documentos, as quebras de sigilo e os depoimentos coletados nos cinco meses de investigação desde a instalação da comissão, em maio. Ela propõe o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) como o grande responsável pelos atos golpistas ocorridos no 8 de Janeiro e sugere que ele seja enquadrado por praticar quatro crimes: associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. Sessenta aliados do ex-presidente também são listados no relatório, e a senadora pede que eles sejam igualmente indiciados. Entre eles estão o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, a deputada Carla Zambelli, o general Braga Netto, o general Augusto Heleno e o tenente-coronel Mauro Cid.
No Túnel do Tempo, corredor principal do Senado, Carla Zambelli declarou à imprensa que o pedido de indiciamento feito contra ela atesta que não houve imparcialidade na confecção do relatório. A parlamentar acusou Eliziane Gama de vazar dados telemáticos de seu celular e classificou os trabalhos da comissão como ‘parciais’. “Em momento nenhum ela [Eliziane] apresenta provas contra mim. Não me deu oportunidade de defesa. Me coloquei à disposição para convocação, disse que aceitaria convite, convocação, acareação, mas não fui chamada”, disse. “Essa CPMI, do começo ao fim, só comete erros. Ela não dá oportunidade de defesa e mostra perseguição política pura”, concluiu.
Na contramão do relatório oficial, a oposição construiu um voto em separado, apresentado nesta terça-feira. Assinado por 16 parlamentares oposicionistas, o documento não possui validade no âmbito da investigação, mas a sugere os indiciamentos de seis pessoas, entre elas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Justiça e Segurança, Flávio Dino (PSB-MA).
O voto em separado ainda pede que sejam responsabilizados o general Gonçalves Dias, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) à ocasião do 8 de Janeiro. Também são sugeridos os indiciamentos de: Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Klepter Rosa Gonçalves, comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF); Paulo José Ferreira de Souza Bezerra, ex-interino do Departamento Operacional da PMDF.