A ausência de um representante da 123milhas na reunião da Comissão do Turismo marcada para quarta-feira (4) gerou críticas do ministro Celso Sabino (União). “Fico triste ao ver a falta de respeito, a falta de consideração, a falta de colaboração para solução desse caso por parte dos representantes. Eles se recusam a tratar com os representantes do povo brasileiro”, disparou o ministro do Turismo no início da sessão na Câmara dos Deputados.
Sabino afirmou ainda que os diretores do grupo serão punidos pelo cancelamento da emissão de passagens aéreas e pacotes de viagens, e garantiu que o Congresso Nacional deve propor uma nova legislação para oferecer mais segurança aos consumidores e ao próprio setor. “Esse caso não ficará sem responsabilização e servirá para motivar o legislador a empreender uma legislação que regule esse mercado”, afirmou.
O ministro indicou ainda que a ausência nesta quarta-feira é um desperdício de uma oportunidade dada à empresa para se justificar. “Eles perdem a oportunidade de estar aqui para mostrar, para demonstrar, para apresentar provas e documentos que fundamentem o que ela diz à mídia, que não houve intenção, que não agiram premeditadamente”, declarou Celso Sabino.
Da sessão participa ainda o diretor do Procon-SP, Luiz Orsatti Filho. Segundo ele, o órgão reuniu cerca de 6.300 reclamações contra a empresa apenas em agosto, quando o grupo cancelou a emissão dos bilhetes aéreos e dos pacotes. “Estas reclamações representam, em valor econômico, cerca de R$ 15 milhões. Provavelmente, o número de consumidores é muito maior”, indicou.
123milhas na mira da CPI das Pirâmides
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga pirâmides financeiras no Brasil chegará ao final no próximo 11 de outubro, e o relatório do deputado Ricardo Silva (PSD-SP) pedirá os indiciamentos dos irmãos Ramiro Júlio e Augusto Júlio Soares Madureira. “Certamente serão indiciados”, atestou Ricardo Silva nesta segunda-feira. “Também estamos investigando a conduta dos diretores”, afirmou.
A CPI chegou à 123Milhas após a suspensão da emissão dos pacotes de viagem e detectou a possibilidade do grupo operar em um modelo de pirâmide. O grupo cancelou a emissão de bilhetes aéreos em 18 de agosto, e aos cancelamentos se sucederam demissões em massa e um pedido de recuperação judicial protocolado na Vara de Belo Horizonte.
O negócio não era sustentável, segundo detalhou o deputado. “Estamos caminhando para a conclusão de que o modelo era insustentável desde o início em razão dos fluxos bancários. Por exemplo, se entrava R$ 1.000, eles gastavam R$ 1.500", citou. “Sempre entrava menos que saía. E como eles mantinham? Com empréstimos bancários altos e atraindo mais clientes com publicidade”, pontuou o relator.
Ricardo Silva indicou ainda que, no início das investigações, a CPI avaliava que as fraudes ligadas à 123Milhas se referiam apenas ao plano promocional, o que não se sustentou. “Começamos a entender que a empresa opera em situação ilícita desde 2019. Levantamos que era uma empresa insustentável e eles, de fato, se mantinham trazendo mais clientes, cada vez mais clientes. O que justifica os gastos com publicidade”, afirmou. “E para o dinheiro ficar com eles [sócios], os gastos com publicidade eram feitos com a agência do pai. Era um negócio triangulado”, cravou.
Inicialmente, a CPI das Pirâmides Financeiras acabaria na última quinta-feira (28). Mas o relator Ricardo Silva e o presidente Áureo Ribeiro conseguiram autorização do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), para prorrogá-la até 11 de outubro. A comissão mira esquemas de pirâmides ligados a ativos digitais, como criptomoedas e milhas aéreas. Em relação à 123Milhas, o relator calcula que, pelo menos, 700 mil pessoas foram lesadas pelo grupo.