O ministro da Defesa José Múcio se reuniu nesta segunda-feira (25) com o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e com o comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Paiva. O encontro privilegiou o fortalecimento das relações entre o Legislativo e as Forças Armadas, especialmente tensionadas desde o vazamento da delação de Mauro Cid, que indicou a participação de militares em articulações golpistas após a eleição presidencial do ano passado. Um dos nomes citados no depoimento de Cid à Polícia Federal (PF) é o do almirante Almir Garnier, e a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos antidemocráticos deve aprovar nesta terça-feira (26) convocação para ouvi-lo.
À imprensa, após a reunião, o ministro José Múcio afirmou que as Forças Armadas têm grande interesse na conclusão das investigações para garantir a punição dos militares que participaram de planos golpistas. “O Brasil inteiro está torcendo para acabar, para os culpados serem punidos e para podermos olhar para frente. As Forças Armadas necessitam que tudo seja esclarecido”, declarou. “O que nos for dito [após as investigações], tomaremos as providências cabíveis”, acrescentou.
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Encerrado o encontro na Esplanada dos Ministérios, Randolfe Rodrigues seguiu para o gabinete da senadora Eliziane Gama (PSD-MA) no Congresso Nacional, onde a ala governista que integra a CPMI discutirá a possibilidade de aprovação do requerimento de convocação do almirante Almir Garnier na sessão deliberativa marcada para terça-feira.
Delação de Mauro Cid. Informações adiantadas por O Globo sobre a colaboração premiada de Mauro Cid, braço-direito de Jair Bolsonaro na Ajudância de Ordens, dão conta de que o militar relatou à Polícia Federal (PF) minúcias de um encontro entre o ex-presidente e a alta cúpula das Forças Armadas após a derrota na eleição do ano passado. Na ocasião, de acordo com Cid, Bolsonaro propôs um golpe de Estado para permanecer à frente do Palácio do Planalto. O Exército, segundo Cid, declinou da sugestão. O almirante Almir Garnier, entretanto, teria colocado as tropas da Marinha à disposição do então presidente da República.
CPMI. A sessão deliberativa desta terça-feira (26) deve marcar a conclusão de um acordo firmado entre oposição e ala governista, mediado pelo presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), para garantir a aprovação dos últimos oito requerimentos de convocação da comissão. Dois deverão ser da oposição, e os outros seis do governo. O acordo foi construído para garantir que os parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro sejam contemplados, apesar de constituírem minoria.
O retorno de Mauro Cid à CPMI é um desejo da relatora Eliziane Gama. Há dois meses, o militar que integrava a Ajudância de Ordens de Jair Bolsonaro compareceu fardado à comissão e, amparado por um habeas corpus, optou por se calar e não respondeu às perguntas dos parlamentares, mesmo aquelas que não o incriminavam. “Diante do fato de hoje, o almirante passa a ser uma pessoa fundamental, e a volta do Mauro Cid. Eu elencaria essas duas figuras como centrais para o final da CPMI”, avaliou Eliziane na sexta-feira passada (22).
A reconvocação de Cid esbarra, contudo, em um entrave jurídico. Com a delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Cid passa a ser protegido pela Súmula Vinculante 14 da Corte, que garante a ele o sigilo do inquérito. Assim, Eliziane indica que, se reconvocado, Cid deverá ir à CPMI nos últimos dias do trabalho da comissão. “Um dos grandes elementos de uma colaboração premiada é a questão do sigilo. Por isso estamos colocando que ele seja, possivelmente, o último a ser ouvido pela CPMI. Exatamente para respeitarmos o prazo e até aguardar uma denúncia da Procuradoria-Geral da República”, declarou.