Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, foi condenado pela Justiça Federal a um ano, um mês e dez dias de prisão por ter cometido o crime de calúnia contra o procurador da República Januário Paludo, ex-integrante da força-tarefa da Operação Lava Jato. A decisão do juiz Osias Alves Penha, da 1ª Vara Federal de Araraquara, no interior de São Paulo, é da terça-feira (5).
Segundo a decisão, a pena deverá ser inicialmente cumprida em regime semiaberto, por Delgatti ser reincidente no crime. Atualmente, o hacker está preso por supostamente ter recebido dinheiro da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) para invadir sistemas do Judiciário e inserir informações falsas.
Delgatti tinha sido denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF), após representação de Paludo, por ter afirmado, em entrevista publicada pela Revista Veja, em dezembro de 2019, que tinha um áudio do procurador aceitando dinheiro para dar andamento ao acordo de delação premiada do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Isso configuraria o crime de corrupção passiva.
“Tem um áudio em que o procurador está aceitando dinheiro do Renato Duque. A Procuradoria iniciou inquérito contra ele, né?”, disse o hacker, na entrevista. Conforme o juiz, a imputação feita ao procurador é falsa. Para isso, ele tomou como base uma investigação da Corregedoria-Geral do MPF sobre integrantes da Lava Jato.
O procedimento da corregedoria foi arquivado depois que não foram identificados indícios de infração disciplinar. Sobre o áudio, os procuradores explicaram à corregedoria que houve uma reunião com o advogado de Duque, em Curitiba, e o dinheiro tratado na mensagem entre procuradores era a devolução de 4 milhões de euros do ex-diretor da Petrobras que tinham sido apreendidos na Suíça. Duque nunca fechou acordo de delação na Lava Jato.
O que diz a defesa do hacker?
No processo, a defesa de Delgatti afirmou que ele “não teve a intenção de ofender a honra do servidor público, pois de fato acreditava que o áudio a que tivera acesso retratava um caso de corrupção passiva, e suas declarações se deram apenas no intuito de narrar o que acreditava ter descoberto”.
Segundo a defesa, o hacker “nunca teve a intenção ou o dolo de manchar a reputação da vítima, mas apenas de denunciar o que supôs ser um crime”.
Ainda de acordo com a defesa, a percepção de realidade do hacker à época estava “totalmente alterada” porque estava sendo tratado como um herói por “toda a mídia”. Para a defesa, Delgatti “acreditava piamente na carapuça que lhe vestiam. Então quando se deparou com o áudio, mesmo sem compreender, desatou a denunciar à mídia, supondo se tratar de mais uma ‘descoberta’”, argumentou.
Delgatti ficou conhecido como hacker da Vaza Jato por ter invadido as contas do aplicativo Telegram de várias autoridades. Os diálogos aos quais ele teve acesso foram atribuídos ao ex-juiz Sergio Moro, ao ex-procurador Deltan Dallagnol e a outros procurados da Lava Jato. Um dos grupos em que conversavam os procuradores se chamava “Filhos de Januário”.