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Apesar de ‘sim’ a reajuste, deputados divergem sobre piso da educação em Minas

Governo diz que aumento de 12,84% fará estado chegar ao patamar mínimo de vencimentos pagos a professors; oposição contesta

Vencimentos dos professores de Minas tem sido tema constante na ALMG

Embora os integrantes da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tenham aprovado a concessão de reajuste de 12,84% aos profissionais da educação estadual, a base aliada ao governador Romeu Zema (Novo) e a oposição discordam a respeito da situação dos professores. Na visão do poder Executivo estadual, o aumento votado nesta quinta-feira (6) faz com que os docentes mineiros passem a receber, ainda que proporcionalmente, o piso nacional da categoria. O bloco de esquerda do Parlamento, porém, refuta a percepção.

O reajuste de 12,84% segue, agora, para sanção de Romeu Zema (Novo). O texto deve ser ratificado pelo governador, uma vez que foi ele o autor do projeto de lei (PL) sobre o tema enviado à Assembleia.

No estado, o atual piso da educação, de R$ 2.350, é pago proporcionalmente a uma jornada de 24 horas semanais. Após a sanção do reajuste, os repasses mensais feitos aos docentes das escolas estaduais passarão a ser de R$ 2.652,29. O novo valor será proporcional ao número de horas trabalhadas na semana. A equipe econômica de Zema estima impacto de R$ 2,3 bilhões neste ano.

“O entendimento do estado é que o piso salarial nacional é atingido. Mas, obviamente, temos de passar a trabalhar com a possibilidade de reajustes além do piso. A classe merece, é justo. É a principal classe na formação de nossos jovens e crianças. Mas, para isso, o estado tem de ter capacidade financeira de arcar”, disse, após a reunião plenária desta quinta, o deputado estadual Cássio Soares (PSD). Ele é o líder de um dos blocos de sustentação a Zema no Parlamento.

Integrante da coalizão de oposição, Macaé Evaristo (PT) discordou da avaliação do colega. “É sempre bom destacar que aprovamos uma recomposição, mas a gente ainda não paga o piso salarial nacional em Minas Gerais. É um dos cinco estados com a menor remuneração aos professores”, protestou.

Apesar disso, a petista chamou de “vitória” o aval legislativo à majoração de 12,84%.

Mudança de rota

Enquanto os educadores comemoram o reajuste de 12,84%, as lideranças governistas na Assembleia buscam garantir a aprovação, ainda nesta quinta-feira, do projeto de lei (PL) que autoriza Minas Gerais a ingressar no Programa de Acompanhamento e Transparência Fiscal (PAF). O programa, gerido pelo governo federal, é visto pelo Palácio Tiradentes como forma de evitar o desembolso de R$ 15 bilhões.

O limite para ingresso no PAF era 30 de junho. Na semana passada, os aliados de Zema tentaram condicionar o reajuste ao professorado à autorização para o acesso ao plano. Críticas da oposição aos termos do refinanciamento, porém, impediram a votação.

Nesta quinta-feira, porém, o reajuste da educação foi analisado antes do PAF. Segundo Cássio Soares, a mudança aconteceu após um acordo.

“(Foram) entendimentos, acordos e compromisso de que, mesmo votando a educação primeiro, no período da tarde, vamos votar o PAF, projeto de interesse do governo para ter tranquilidade e segurança para honrar o compromisso do reajuste do piso salarial da educação”, assinalou.

Paralelamente às conversas no ambiente Legislativo, o núcleo jurídico do governo mineiro já acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) por mais tempo para concretizar a adesão. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já anunciou que pretende fazer valer os trâmites de cobrança das cifras bilionárias.

Oposição vai manter estratégia

Apesar do “sim” unânime ao aumento nos vencimentos da educação, o bloco de oposição, com 20 dos 77 assentos da Assembleia, pretende votar contrariamente ao PAF. A avaliação do cordão, formado por PT, PCdoB, PV, Psol e Rede, é que o texto sobre Transparência Fiscal é uma “ponte” para o estado aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

A cúpula do governo mineiro vê, no RRF, a saída para renegociar dívida pública de R$ 160 bilhões. Os opositores de Zema, porém, temem que a estratégia proporcione desinvestimentos em políticas públicas e prejuízos ao funcionalismo.

“Passado um ano da adesão do Rio Grande do Sul, a discussão feita lá é que é preciso mudar os termos do Regime de Recuperação Fiscal. O Rio Grande do Sul, com Minas, não paga um centavo da dívida há mais de cinco anos. Aprovou a Recuperação Fiscal e privatizou tudo, mas continua sem dinheiro para pagar a dívida”, apontou Macaé Evaristo.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.