Uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) reuniu na quarta-feira (14) moradores de vários bairros da Grande BH, deputados e representantes do governo de Minas para discutir os impactos do novo Rodoanel Metropolitano.
O governo explicou que os processos de licenciamento estão sendo feitos, com análise dos impactos ambientais e sociais que a nova rodovia terá na região. Moradores demonstraram preocupação com o traçado da estrada e temem desapropriações.
O estudante doutorando em Ciências Sociais, Glauco Durães, é morador da comunidade quilombola de Pinhões, que fica em Santa Luzia, na Região Metropolitana. Ele destaca que a obra vai impactar em questões territoriais e sociais da comunidade.
“A comunidade vai ter seu território cortado ao meio pela obra do Rodoanel, que vai dividir a sede da comunidade do cemitério dos escravos, que é um cemitério tombado pelo poder público municipal. É uma região rural, com essa urbanização vindo com o Rodoanel, acredito que vai mudar completamente a comunidade”, afirmou Glauco.
Já o torneio mecânico Valdir Pontes é morador do bairro nascentes imperiais, em Contagem. Ele afirma que o impacto na região dele será maior que o consta em estudos do Governo.
“O governo do estado disse inicialmente que o trecho que iria passar por nosso bairro iria tirar entre 30 e 50 casas, nós fizemos um estudo com o projeto Rondon e identificamos que vamos perder entre 400 e 600 casas com essas obras. Isso significa tirar do bairro cerca de 2 mil pessoas, sem nenhum estudo para poder realocar essas pessoas depois”, afirmou Valdir.
‘Solução para salvar vidas’
O subsecretário de Transportes e Mobilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade, Aaron Duarte, explicou os critérios técnicos da obra e afirmou que os levantamentos sobre os impactos serão discutidos ao longo dos próximos meses com todos os envolvidos.
“Esse é um projeto grande, que vai trazer melhorias, mas que terá impacto na vida de muitas pessoas. Entendemos todos os anseios e vamos buscar endereçar essas questões por meio de medidas para mitigar os impactos do projeto”, diz.
“O Rodoanel vai trazer melhorias para a mobilidade do estado, vai permitir que as pessoas se desloquem com maior segurança e mais rapidez. Ele será um corredor logístico que vai conectar Minas a outras regiões com mais fluidez, estimamos um aumento no PIB da Região Metropolitana de 7% a 13% em até 10 anos. Vamos evitar cerca de 1 mil acidentes que acontecem por ano. O Rodoanel é uma solução viável para salvar vidas”, explica.
O governo de Minas aponta a criação do Rodoanel como uma solução para o alto índice de acidentes no Anel Rodoviário.
“O projeto do Rodoanel não data de agora, já existem estudos de mais de 20 anos. O Anel Rodoviário de BH se tornou uma rodovia muito perigosa, com vários acidentes, lidera número de acidentes com lesões fatais, em média temos 4,5 mil acidentes por ano. É um anel já saturado, hoje transitam por ali mais de 100 mil veículos, e o tempo médio de atraso chega a 45 minutos, com altos índices de engarrafamentos, e isso impacta a competitividade logística do nosso estado”, afirmou Aaron.
‘Governo quer via veloz para carretas’
A deputada Bela Gonçalves, do PSOL, também reclama da falta de transparência e reivindica que as comunidades impactadas sejam ouvidas.
“O Rodoanel está sendo vendido sem que as populações locais tenham sido ouvidas. Corremos o risco de criar um novo Anel Rodoviário em BH. O governo diz que a alternativa para o Anel é a criação do Rodoanel, mas isso não é verdade. O Anel precisa de áreas de escape, precisa de obras de reassentamento das famílias que moram na beira da via, precisa de soluções urbanas. O governo quer construir um novo traçado para trânsito veloz de carretas em áreas densamente ocupadas e ainda prejudicando nossos mananciais”, critica a deputada.
Cronograma
No final do mês de março, o governador Romeu Zema assinou o contrato de concessão do Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte.
O leilão foi vencido pela empresa italiana Inc. Ela será a responsável pela construção e pela gestão da via nos próximos 30 anos. O rodoanel terá uma extensão de 100 quilômetros.
Na primeira fase, as alças Norte e Oeste serão concluídas nos primeiros 5 anos contados a partir de agora, representando 70% desta extensão. São R$ 5 bilhões de investimentos, sendo R$ 3 bilhões do acordo de Brumadinho e R$ 2 bilhões do investidor privado. A previsão é que as próximas alças sejam concluídas em 2028.