Mensagens periciadas pela Polícia Federal no celular do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), mostram que ele garantiu ao presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber e ao ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), que a situação sobre os atos de bolsonaristas no dia 8 de janeiro estava “controlada”.
Entre a noite da véspera dos atos golpistas e o dia em que bolsonaristas invadiram, destruíram e saquearam os prédios do STF, do Congresso e o Palácio do Planalto, Ibaneis foi acionado pelos chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário e o ministro da Justiça.
Em um intervalo de poucas horas, Ibaneis mudou o tom do discurso, de “situação tranquila” para “vamos precisar do Exército”.
A troca de mensagens foi revelada em meio ao inquérito da Polícia Federal que investiga as ações e omissões de Ibaneis Rocha sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.
Ibaneis conversa com Rodrigo Pacheco
Na véspera dos atos golpistas de 8 de janeiro, quando ônibus com bolsonaristas chevagam a Brasília, Rodrigo Pacheco acionou o governador do DF. Em mensagem enviada às 20h, o presidente do Senado disse que a polícia legislativa “está um tanto apreensiva pelas notícias de mobilização e invasão ao Congresso. Pode nos ajudar nisso?”.
Quatro minutos depois, o governador do DF respondeu:
“Já estamos mobilizados. Não teremos problemas. Coloquei todas as forças nas ruas”, tranquilizou.
Ibaneis conversa com Rosa Weber
No dia 8 de janeiro, quando bolsonaristas já haviam invadido a Praça dos Três Poderes e o prédio do Congresso Nacional, foi a presidente do Supremo, Rosa Weber, quem demonstrou preocupação.
“Já entraram no Congresso!”, escreveu Rosa ao governador às 16h25.
Dois minutos depois, Ibaneis Rocha disse ter colocado “todas as forças de segurança nas ruas”. Um minuto depois, às 16h28, escreveu novamente: “Estamos cuidando”.
Ibaneis conversa com Flávio Dino
A perícia da PF também demonstrou que Ibaneis trocou mensagens com o ministro da Justiça Flávio Dino no dia 8 de janeiro.
Às 0h30, o ex-governador do Maranhão questionou Ibaneis sobre a orientação para as forças de segurança do DF, prevendo atos que aconteceriam horas depois.
“Governador, não entendi bem qual será a sua orientação para a Polícia? Onde será o ponto de bloqueio e de que forma?”, perguntou.
Ibaneis respondeu:
“Situação tranquila, no momento”, tranquilizou.
Às 16h05, já em meio às invasões, Dino tenta telefonar para Ibaneis, que não atende. Por volta de 16h45, escreve para o ministro: “Vamos precisar do Exército”.
Ibaneis é afastado
Na madrugada do dia 9 de janeiro, horas após a invasão à Praça dos Três Poderes, Ibaneis foi afastado do cargo por uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, baseado em indícios de que houve omissão, por parte do governador, no combate aos protestos golpistas. A decisão foi referendada por outros oito ministros dias depois.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, Ibaneis disse que não foi omisso, mas que foi sabotado pela cúpula da segurança pública do Distrito Federal. Ele chegou a exonerar o secretário de Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, em meio ao caos em Brasília. Torres estava de férias nos Estados Unidos.
Nesta quinta-feira (9), a defesa de Ibaneis Rocha pediu que o STF revogue a decisão de afastamento do cargo.