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Entenda por que alguns cães gostam tanto de cavar

Comportamento pode ser resultado de ansiedade, tédio ou instinto de proteção de recursos

Se o comportamento for persistente, compulsivo ou estiver associado a outros sinais de ansiedade, como latidos excessivos, automutilação ou destruição generalizada, o ideal é procurar orientação profissional

Cavar é um comportamento instintivo em muitas raças de cachorro, e ainda que possa incomodar tutores quando o jardim está destruído, nem sempre indica um problema de comportamento. A escavação pode estar ligada a motivações naturais, como busca por conforto térmico, diversão ou mesmo técnicas ancestrais de caça.

De acordo com a American Kennel Club (AKC), escavar pode ser resultado de fatores como ansiedade, tédio, instinto de proteção de recursos ou mesmo comportamento aprendido por reforço. “Alguns cães descobrem que cavar atrai a atenção do tutor, mesmo que negativa, o que pode estimular o comportamento”, aponta a entidade em seu guia sobre comportamento canino.

As razões variam conforme o perfil e ambiente do animal, mas os principais motivos são:

  • Caça a pequenos animais ou insetos subterrâneos;
  • Busca por conforto em dias muito quentes ou frios;
  • Necessidade de aliviar o estresse ou ansiedade;
  • Entediante rotina com pouco estímulo físico ou mental;
  • Tendência genética em raças como terriers e huskies.

Segundo o Departamento de Bem-Estar Animal da Universidade de Cambridge, comportamentos como escavar ou mastigar em excesso costumam ser mais frequentes em cães que não recebem estímulo suficiente na rotina. “O comportamento destrutivo está muitas vezes ligado à frustração. Cães com acesso limitado a exercícios e interações sociais estão mais propensos a canalizar energia em atividades como cavar”, detalha o material.

Como lidar com o comportamento escavador?

Antes de tentar eliminar a escavação, é importante observar quando e onde ela ocorre. Se for um local específico do quintal, o cachorro pode estar apenas sentindo calor e tentando refrescar-se. Se for após ficar muito tempo sozinho, pode ser sinal de ansiedade ou tédio.

A médica-veterinária e especialista em comportamento animal Ana Letícia Albano, da Universidade de São Paulo, destaca: “A tentativa de impedir esse comportamento por meio de punição física ou verbal tende a ser contraproducente. O ideal é redirecionar a energia do animal para atividades mais saudáveis e estimulantes”.

Proporcionar passeios frequentes, brinquedos interativos e enriquecimento ambiental pode ajudar a reduzir significativamente a necessidade de cavar. Outra opção é criar uma área específica para escavação, como uma caixa de areia ou um canto no jardim liberado para isso.

A Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA) recomenda essa alternativa como forma de atender ao instinto sem comprometer o ambiente da casa. Se o comportamento for persistente, compulsivo ou estiver associado a outros sinais de ansiedade, como latidos excessivos, automutilação ou destruição generalizada, o ideal é procurar orientação profissional.

Etologistas e veterinários especializados em comportamento podem ajudar a identificar as causas e propor soluções baseadas em reforço positivo e modificação ambiental.

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Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.