A relação entre cães e humanos vai além do convívio diário: cada vez mais pesquisas apontam que os cães são capazes de “espelhar” traços de comportamento e até estados emocionais de seus tutores.
A influência do ambiente doméstico e da forma como o tutor lida com o animal pode determinar desde a forma de brincar até o nível de ansiedade do pet.
Um estudo da Universidade de Viena, na Áustria, publicado no periódico PLoS One, mostrou que cães podem adotar traços de personalidade semelhantes aos de seus tutores, especialmente em relação a níveis de estresse e sociabilidade.
“Animais cujos tutores apresentavam altos níveis de neuroticismo tendiam a ser mais ansiosos, enquanto cães de pessoas calmas e extrovertidas apresentaram comportamentos mais equilibrados”, explica a pesquisadora Iris Schoberl, responsável pela investigação.
Outro levantamento conduzido pelo Departamento de Ciências Animais da Universidade de Lincoln, no Reino Unido, destacou que a forma como os tutores reagem a situações de estresse influencia diretamente a resposta dos cães em momentos semelhantes.
O estudo reforça a ideia de que, além do treinamento e da socialização, o exemplo humano tem um papel central na construção do temperamento canino.
Emoções humanas e reflexos no bem-estar canino
Essa conexão emocional tem base científica: os cães conseguem identificar expressões faciais humanas e até mesmo distinguir diferentes tons de voz, de acordo com pesquisa publicada na revista Current Biology.
A capacidade de interpretar sinais emocionais fortalece o vínculo, mas também pode gerar impacto quando o tutor está constantemente estressado ou ansioso.
De acordo com a American Kennel Club (AKC), instituição referência na saúde e comportamento canino, cães que convivem em lares com maior nível de harmonia tendem a ser mais sociáveis e obedientes. Já em ambientes tensos, podem surgir sinais de hiperatividade, destruição de objetos ou até problemas digestivos relacionados ao estresse.
Entre os comportamentos que podem indicar influência do tutor sobre o cão estão:
- Níveis de ansiedade mais altos ou mais baixos, conforme a rotina emocional do tutor;
- Maior ou menor disposição para atividades físicas, dependendo do estilo de vida do dono;
- Respostas mais agressivas ou dóceis diante de situações de estresse;
- Capacidade de socialização com outros cães e pessoas, ligada ao exemplo do tutor em interações sociais.
Como promover equilíbrio e bem-estar no convívio
Embora essa relação de “espelhamento” possa preocupar, especialistas apontam que ela também abre espaço para fortalecer o bem-estar animal por meio da mudança de hábitos humanos.
De acordo com a World Small Animal Veterinary Association (WSAVA), práticas como estabelecer rotinas de passeio, manter atividades físicas regulares e oferecer estímulos mentais ajudam a equilibrar cães, mesmo em lares com tutores naturalmente mais ansiosos.