Como o ‘pedacinho’ do jantar de fim de ano pode encurtar a vida do pet

Hábito recorrente de oferecer “comida da mesa” não causa apenas um desequilíbrio nutricional, mas é um dos principais fatores para a redução do tempo de vida dos pets

Tutores acreditam que um pequeno pedaço de carne temperada não fará mal, mas o efeito tóxico de ingredientes como o alho e a cebola é cumulativo

As festas de fim de ano são marcadas pelas mesas cheias, mas o que muitos tutores interpretam como um gesto de carinho, como oferecer um pedaço do assado ao pet, pode esconder riscos severos à saúde dos cães e gatos. Sem falar do risco de desenvolverem doenças crônicas ou fatalidades imediatas.

De acordo com especialistas em nutrologia veterinária, o sistema digestivo dos animais não está preparado para processar a complexidade da culinária humana. O hábito recorrente de oferecer “comida da mesa” não causa apenas um desequilíbrio nutricional; ele é um dos principais fatores para a redução da longevidade dos pets.

De acordo com Thiago Alvarenga, médico veterinário especializado em nutrologia, muitos tutores acreditam que um pequeno pedaço de carne temperada não fará mal, mas o efeito tóxico de ingredientes como o alho e a cebola é cumulativo.

“O organismo dos cães e gatos não possui as enzimas necessárias para metabolizar certas substâncias, o que gera uma sobrecarga silenciosa em órgãos vitais como o fígado e os rins, reduzindo drasticamente a expectativa de vida do animal a longo prazo”, afirma o especialista.

O maior perigo muitas vezes não é a proteína em si, mas o que a acompanha. Dois dos ingredientes mais básicos da cozinha brasileira, a cebola e o alho, são altamente tóxicos. Eles contêm substâncias que provocam a oxidação da hemoglobina, levando à destruição dos glóbulos vermelhos e quadros graves de anemia. No caso da cebola, mesmo em pequenas quantidades ou em pó, o dano pode ocorrer.

Além disso, o excesso de sódio e gordura presente nos assados de final de ano, como o peru, o pernil e o chester, pode desencadear a pancreatite, uma inflamação aguda no pâncreas que pode levar ao óbito em poucos dias se não for tratada com urgência.

A Itatiaia preparou uma lista com alguns alimentos comuns na mesa de fim de ano e que devem ser mantidos longe do alcance dos animais:

- Uvas e passas: presentes no arroz e no panetone, são extremamente perigosas. A ingestão de apenas algumas unidades pode causar insuficiência renal aguda em cães, muitas vezes de forma irreversível.

- Chocolate e doces: o chocolate contém teobromina, uma substância que o organismo dos pets não consegue metabolizar. Em altas doses, causa taquicardia, convulsões e parada cardiorrespiratória. Doces com o adoçante xilitol podem causar queda brusca de glicose e falência hepática.

- Ossos cozidos: diferente dos ossos crus e apropriados, o osso cozido fica mais quebradiço. Ao ser mastigado, ele se estilhaça em pontas que podem perfurar o esôfago, estômago ou intestino do animal.

- Nozes e macadâmias: podem causar fraqueza, vômitos e hipertermia. A macadâmia, especificamente, afeta o sistema nervoso e muscular dos cães.

Longevidade do pet

O encurtamento da vida do pet ocorre silenciosamente através da obesidade e da sobrecarga de órgãos como rins e fígado. Ao oferecer alimentos ultraprocessados ou temperados, o tutor está, sem perceber, predispondo o animal a doenças como diabetes e hipertensão.

“O ato de dar comida da mesa está mais ligado à carência do tutor do que à necessidade do animal. O pet se sente incluído através da interação e do gasto de energia, não necessariamente pela partilha do alimento humano. Substituir o resto da ceia por um brinquedo recheado com alimentos seguros é uma forma muito mais saudável de celebrar o ano novo”, explica Carolina Rocha, veterinária e especialista em comportamento animal.

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Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.

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