Chega de jornal: entenda a ciência por trás do tapete higiênico para cães

Superioridade do tapete sobre o jornal ou o pano de chão é uma questão dermatológica; conheça os riscos da umidade constante nas almofadinhas das patas dos cães

Cães preferem naturalmente usar as superfícies absorventes, como grama ou tapetes

Todo lar brasileiro com cachorros com certeza já passou pela fase das folhas de jornal para o xixi. Até que vieram os tapetes higiênicos tecnológicos, uma evolução preventiva. Embora muitos tutores ainda encarem o tapete apenas como uma “fralda de chão”, ele é, na verdade, uma ferramenta que ajuda a explorar o instinto olfativo dos caninos.

A eficácia do produto está na combinação de componentes superabsorventes, que evitam patas molhadas, com odores sintéticos atrativos para os cães, que mimetizam feromônios de marcação de território.

Do ponto de vista da saúde física, a superioridade do tapete sobre o jornal ou o pano de chão é uma questão dermatológica. A Sociedade Brasileira de Dermatologia Veterinária (SBDV) alerta frequentemente sobre os riscos da umidade constante nos coxins (almofadinhas) dos cães.

O contato repetido da pata com a própria urina, comum no uso de jornais, que não absorvem instantaneamente, cria o ambiente perfeito para a proliferação de fungos, como a Malassezia e pododermatites bacterianas.

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“A manutenção da pele íntegra e seca é a principal barreira contra infecções. Superfícies que retêm umidade, como tecidos ou papéis saturados, facilitando a entrada de patógenos oportunistas nos coxins, o que causa inflamação, dor e o famoso cheiro de ‘chulé' nas patas”, recomenda o Manual Merck de Veterinária.

Um lembrete importante: a tecnologia do tapete não substitui a necessidade de condicionamento comportamental do pet. Um erro clássico dos tutores é acreditar que o atrativo químico fará o cão “adivinhar” o local nos primeiros dias. O American Kennel Club (AKC) reforça que os cães são animais de “toca” e têm uma aversão natural a sujar o local onde comem ou dormem. O sucesso do tapete depende, portanto, de onde ele é posicionado.

“Os cães preferem naturalmente usar as superfícies absorventes, como grama ou tapetes, porque isso evita respingos neles mesmos. Outro erro comum é colocar o tapete muito próximo da comida. O instinto de sobrevivência do cão dita que ele não deve ‘se aliviar’ perto de onde se alimenta. Respeitar essa setorização é o primeiro passo do treino”, aponta a AKC no guia Potty Training Guide.

A psicologia do aprendizado canino também entra em jogo, pois o uso do tapete deve ser fixado através do Reforço Positivo, e jamais pela punição. Alexandre Rossi, zootecnista e especialista em comportamento animal da Dr. Pet, é enfático ao condenar práticas como esfregar o nariz do cachorro no erro, o que gera apenas medo e ansiedade, fazendo o cão esconder o xixi, (fazendo atrás do sofá, por exemplo, em vez de aprender o local correto.

“Quando você dá uma bronca porque o cachorro fez xixi no lugar errado, ele entende que fazer xixi é perigoso na sua frente. O correto é ignorar o erro, limpar sem que ele veja e recompensar com festa e petisco quando ele acerta o alvo. O tapete deve virar um ‘lugar mágico’ onde coisas boas acontecem quando ele é usado”, diz o profissional.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.

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