A prática de cortar as penas das asas de aves domésticas divide opiniões entre tutores, veterinários e especialistas em bem-estar animal.
O procedimento, comumente realizado para limitar a capacidade de voo e evitar acidentes ou fugas, precisa ser cuidadosamente avaliado com um veterinário especializado, pois envolve diretamente a saúde física e emocional do animal.
Muitas pessoas que adotam aves como pets desconhecem as especificidades de seus cuidados, e o corte das penas acaba sendo visto, equivocadamente, como uma prática padronizada e inofensiva.
Porém, de acordo com orientações do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), o bem-estar animal deve ser prioridade absoluta.
“Toda ação que comprometa o comportamento natural do animal, como voar, precisa ser avaliada eticamente e tecnicamente”, afirma o CFMV, em nota oficial sobre manejo de aves.
O debate também envolve aspectos emocionais. “O voo é uma necessidade comportamental intrínseca para a maioria das espécies de aves. Impedi-las de voar pode causar estresse, obesidade e até quadros depressivos”, alerta a médica-veterinária e especialista em animais silvestres, Maria Clara Rachid, em publicação da Universidade de São Paulo (USP).
Assim, mais do que uma escolha pessoal ou estética, o corte das penas deve ser um procedimento técnico, justificado e sempre conduzido por profissional capacitado.
Para que serve o corte e quando ele é indicado?
O principal objetivo do corte de penas é limitar parcialmente o voo da ave e prevenir que ela fuja ou se machuque em objetos da casa, como ventiladores e janelas.
“O motivo principal é para a ave ficar solta e não fugir. Ao impedir voos mais altos, o corte adequado também garante maior segurança para o pet”, explica a veterinária Mariana Pestelli, especialista em animais silvestres da Petz.
Mas nem todas as aves devem passar por esse procedimento. Segundo Pestelli, o corte é indicado apenas para aves mansas, criadas na mão e acostumadas com a prática desde cedo.
A profissional ressalta: “Não é possível fazer isso em qualquer ave ou em qualquer idade”.
Além disso, não se trata de uma mutilação, mas de uma técnica que, quando bem realizada, permite que a ave plane curtas distâncias, evitando quedas bruscas.
Contudo, há quem defenda alternativas mais respeitosas ao comportamento natural, como ambientes telados ou enriquecidos, que permitam o voo seguro.
Se feito de forma inadequada, o corte de penas pode trazer sérias complicações à saúde da ave, como fraturas e sangramentos, desequilíbrio e quedas, estresse e possíveis infecções por feridas abertas durante o corte.
“A maioria dos animais que atendo estão com corte errado de asas”, alerta a médica-veterinária Melanie Leite, em entrevista ao portal Cães e Gatos.
Ela reforça a importância de buscar profissionais especializados: “O corte de asas tem que ser realizado por um profissional especializado porque não é um corte padrão, é um corte específico para aquela rotina daquele paciente”.
O Manual de Boas Práticas no Manejo de Animais Silvestres, publicado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), também recomenda que esse tipo de intervenção seja precedido por avaliação veterinária criteriosa, considerando o bem-estar e a saúde do animal.