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Como identificar o cio e cuidar da cadela durante esse período

Tutores devem saber reconhecer não apenas os sinais físicos, mas também as alterações emocionais que o ciclo pode provocar

Embora o cio seja um processo fisiológico natural, exige acompanhamento, cuidado e planejamento por parte dos tutores

O cio é um fenômeno natural e inevitável na vida das cadelas. Ele marca o início da maturidade sexual e ocorre, em média, duas vezes ao ano (isso, porém, pode variar conforme porte, raça e individualidade do animal).

Para garantir que tudo ocorra bem durante esse período, prevenir fugas, evitar gestações indesejadas e também proteger a saúde da fêmea, é importante que o tutor saiba identificar os sinais do cio, assim como conhecer os cuidados necessários.

De acordo com a médica-veterinária Carla Molento, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “o manejo adequado das fêmeas no cio é fundamental para reduzir o risco de doenças e problemas comportamentais, além de evitar a superpopulação animal”.

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O ciclo estral, conhecido como cio, é dividido em quatro fases: proestro, estro, diestro e anestro.

A primeira é marcada pelo inchaço da vulva e secreção sanguinolenta, sinais que indicam que a fêmea está atraindo machos, mas ainda não aceita o acasalamento.

Em seguida, no estro, ocorre a ovulação e, com ela, a receptividade sexual. O diestro corresponde à fase de estabilização hormonal, enquanto o anestro é um período de repouso reprodutivo.

Sinais importantes para identificar o cio

Os sinais de que a cadela está no cio podem variar, mas geralmente envolvem alterações físicas e comportamentais, explica Molento.

A vulva apresenta-se inchada e há uma secreção vaginal, inicialmente avermelhada e, depois, mais clara. Além disso, podem ocorrer mudanças comportamentais como maior agitação, carência ou até agressividade.

O aumento da frequência urinária também é comum, pois a cadela tende a marcar território para sinalizar sua disponibilidade reprodutiva aos machos.

Esse comportamento pode gerar desconforto, tanto para os tutores quanto para o próprio animal, principalmente em ambientes domésticos. Por isso, é fundamental reconhecer esses indícios rapidamente.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) orienta que, nesse período, as cadelas devem ser mantidas em ambientes seguros, evitando passeios soltos ou contato com outros cães, especialmente machos.

A entidade reforça: “o cio é um período delicado e exige responsabilidade dos tutores, sobretudo para evitar a reprodução indesejada, que contribui para o aumento de animais abandonados”.

Cuidados indispensáveis durante o ciclo estral

Além da atenção aos sinais, o tutor deve adotar medidas de cuidado que promovam o conforto e a saúde da cadela durante o cio.

Esse período pode ser estressante para alguns animais, por conta das alterações hormonais que afetam o comportamento e a fisiologia.

Ainda de acordo com Molento, os principais cuidados são:

  • Oferecer um ambiente tranquilo, com menor exposição a estímulos estressantes;
  • Evitar passeios em locais públicos onde haja presença de cães machos;
  • Manter a higiene da região genital com lenços umedecidos próprios para pets;
  • Considerar o uso de calcinhas higiênicas para evitar que a secreção manche móveis da casa ou roupas;
  • Observar qualquer sinal de alteração de comportamento ou saúde e, se necessário, consultar um médico-veterinário.

Muitos tutores optam apenas por esse manejo temporário, mas a castração é uma alternativa recomendada por diversas instituições, como a Organização Mundial da Saúde Animal (WOAH), para evitar o estresse do ciclo e prevenir doenças graves, como a piometra (infecção uterina) e tumores mamários.

A decisão sobre a castração deve ser tomada em conjunto com o veterinário, levando em conta a saúde e a idade do animal.

Segundo a médica-veterinária e presidente da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Comportamental (ABMeVeC), Daniela Ramos, “a castração precoce, antes do primeiro cio, reduz significativamente os riscos de câncer mamário, além de melhorar a qualidade de vida da cadela”.

Jessica de Almeida é repórter multimídia e colabora com reportagens para a Itatiaia. Tem experiência em reportagem, checagem de fatos, produção audiovisual e trabalhos publicados em veículos como o jornal O Globo e as rádios alemãs Deutschlandfunk Kultur e SWR. Foi bolsista do International Center for Journalists.