Três mães que deram à luz na Santa Casa da Misericórdia de Ouro Preto, na região Central de Minas, denunciaram ter sido vítimas de violência obstétrica durante seus partos. As mulheres registraram o boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher nessa terça-feira (6). As informações foram reveladas pelo Jornal Diário de Ouro Preto.
Uma das mães, de 29 anos, afirmou ter enfrentado muita dor e negligência por parte do médico obstetra durante o parto de sua filha. Ela relata que o parto ocorreu em novembro de 2022, mas só tomou conhecimento de que havia sofrido violência obstétrica depois que outra mãe relatou uma situação semelhante. Embora seja um assunto delicado, as mães que fizeram a denúncia optaram por falar sobre suas experiências sem se identificar. Elas esperam que outras mães que passaram por situações de violência obstétrica se sintam motivadas a denunciar.
A Santa Casa informou, por meio de nota, tomou conhecimento das denúncias a que a Diretoria Técnica foi informada. O profissional denunciado será ouvido e o hospital avalia a possibilidade de abertura de uma sindicância. Confira abaixo a nota completa
“A Santa Casa prioriza as boas práticas de assistência à saúde. No que diz respeito ao atendimento obstétrico, a instituição possui a certificação de Hospital Amigo da Criança, o que demonstra seu compromisso com a assistência humanizada. Os médicos da equipe de ginecologia e obstetrícia recebem orientação e treinamento constantes para fornecer atendimento humanizado, sempre respeitando os desejos expressos pelas parturientes, dentro das condutas técnicas e éticas recomendadas.
A Santa Casa de Ouro Preto tomou conhecimento das denúncias nesta semana e a Diretoria Técnica da instituição foi informada. O médico mencionado no jornal será ouvido para que sua versão dos fatos seja conhecida, seguindo o princípio do direito à ampla defesa. Com base em todas as informações pertinentes, não está descartada a possibilidade de abertura de uma sindicância interna para avaliação do caso, conforme os preceitos estabelecidos pelos Conselhos Regional e Federal de Medicina.
Todos os profissionais de enfermagem (técnicos e enfermeiros) que trabalham na Maternidade passaram por qualificação e titulação oferecidas por doulas da Maternidade Sofia Feldman, referência em ginecologia e obstetrícia no estado de Minas Gerais. O objetivo desse treinamento foi aprimorar ainda mais o atendimento, proporcionando maior conforto físico, emocional, afetivo e psicológico às mulheres, permitindo que participem plenamente do acompanhamento dos partos.”
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, por meio de nota, que investiga a denúncia de violência obstétrica. “Nos próximos dias, os envolvidos serão ouvidos. Mais informações serão repassadas após o avanço dos trabalhos investigativos”, disse.
Coragem para denunciar
Jaqueline Lourenço, doula e educadora perinatal, comemorou esse primeiro passo, afirmando que ele abre caminho para outras mulheres terem coragem de denunciar. “Eu espero que este acontecimento sirva como um marco na história de Ouro Preto, para que as mulheres saibam que elas não precisam passar por uma experiência sofrida, dolorosa e violenta quando elas forem receber seus bebês”, afirmou.
Conforme o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Ouro Preto, essa é a primeira vez que esse tipo de violência é relatado na cidade. O órgão afirma que a ação dessas mães pode encorajar outras vítimas a denunciarem.
A presidente do Conselho, Débora Queiroz, acompanhou as mães na delegacia e se emocionou ao relatar que nasceu de uma violência obstétrica na década de 80. “Para eu nascer minha mãe ficou em trabalho de parto por 24h, então é também a minha história que está sendo contada aqui”.
Novas ações
De acordo com Débora, foram estabelecidos contatos com o Conselho Municipal de Saúde para unificar a abordagem sobre o tema. Até o momento, três reuniões já foram realizadas para tratar desse assunto.
“É de extrema importância que as instituições de saúde do município respeitem o plano de parto das mulheres. Além disso, é fundamental que o plano de parto seja incorporado à atenção primária, começando no pré-natal, para que todas as mulheres possam discutir e expressar suas preferências sobre como desejam dar à luz”, declarou a presidente do Conselho do Direito das Mulheres.