Saiba qual foi a intenção de Putin ao anunciar novo armamento nuclear

Putin anunciou que a Rússia faz testes de um novo míssil de cruzeiro movido a energia nuclear

Putin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta semana que a Rússia desenvolveu um míssil de cruzeiro movido a energia nuclear, o que foi recebido com ceticismo técnico e apreensão econômica no cenário internacional, segundo o professor dos cursos de Gestão e Relações Internacionais da Una, Fernando Sette Júnior.

“De um lado, especialistas duvidam da viabilidade e segurança do projeto; de outro, os mercados reagiram com aumento da aversão ao risco e leve valorização de ativos de refúgio, como o ouro. Para os países ocidentais, a notícia representa um sinal de instabilidade estratégica, capaz de pressionar os orçamentos de defesa e elevar a incerteza global”, afirmou.

“Em síntese, o teste foi visto como um movimento político que reforça a tensão geopolítica e sinaliza um mundo cada vez mais fragmentado e militarizado, com potenciais impactos sobre fluxos de capitais e investimentos internacionais”, acrescentou o professor.

Para o especialista, Putin teve motivações essencialmente políticas e econômicas ao divulgar a informação. “Internamente, Putin busca reforçar a coesão nacional e a narrativa de autossuficiência tecnológica, sustentando a legitimidade do regime diante dos custos da guerra e das sanções. Externamente, o anúncio funciona como sinal de dissuasão e como instrumento de negociação, elevando o custo de uma escalada militar por parte da OTAN”, explicou.

A estratégia também pode favorecer a Rússia nas relações com parceiros estratégicos, principalmente entre China e Irã, e servir de contrapeso às restrições impostas pelo Ocidente. “Trata-se, portanto, de uma jogada geopolítica com efeitos diretos sobre expectativas de investimento e estabilidade de mercados”, afirmou.

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Ameaça ao Ocidente

De acordo com o professor, a criação do armamento serve como ameaça ao Ocidente. “A simples possibilidade de um míssil com alcance praticamente ilimitado força o Ocidente a reavaliar seus sistemas de defesa e a destinar mais recursos ao setor militar, pressionando orçamentos já deficitários”, disse.

“Essa dinâmica alimenta uma corrida armamentista que tende a desviar investimentos de áreas produtivas, reduzir a eficiência fiscal e aumentar a volatilidade nos mercados. Além disso, o aumento do risco geopolítico eleva o custo do capital e provoca fuga de investimentos de regiões instáveis, o que agrava as incertezas macroeconômicas globais”, explicou o professor.

Além de ser uma ameaça, o teste do armamento pode prejudicar a relação da Rússia com os Estados Unidos, reduzindo o espaço para cooperação econômica e diplomática.

“A desconfiança entre as duas potências deve levar à imposição de novas sanções, ao bloqueio de fluxos tecnológicos e à reativação de programas nucleares norte-americanos. Isso amplia o isolamento da economia russa, encarece suas transações internacionais e aprofunda a dependência de parceiros não ocidentais”, apontou.

“Para os EUA e a Europa, o episódio significa aumento de gastos militares e risco fiscal, além de instabilidade nos mercados de energia e commodities. No agregado, ambos os lados perdem eficiência econômica e estabilidade macro”, acrescentou.

Há risco de guerra nuclear?

O desenvolvimento de armamento nuclear foi um assunto em alta nessa semana com a afirmação de Putin e também com o anúncio dos Estados Unidos de retomar os testes nucleares. Mas a questão que fica é: há risco de uma guerra nuclear?

Segundo o professor, é improvável, uma vez que “o custo seria insustentável para todas as potências envolvidas”. Porém, a “probabilidade de incidentes regionais ou escaladas acidentais cresce à medida que os mecanismos de controle e comunicação se enfraquecem”.

“Esse ambiente de incerteza já se reflete em maiores prêmios de risco, retração de investimentos e instabilidade cambial em mercados emergentes. Assim, o perigo maior não é apenas bélico, mas estrutural: o de uma economia mundial mais fragmentada, militarizada e propensa à desaceleração, marcada pela substituição de cooperação internacional por competição estratégica entre blocos”, finalizou.

Formada pela PUC Minas, é repórter da editoria de Mundo na Itatiaia. Antes, passou pelo portal R7, da Record.

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