O número de pessoas deslocadas à força globalmente apresentou uma ligeira redução em comparação com o ano anterior, mas permanece “insustentavelmente elevado”, conforme alertou a ONU nesta quinta-feira (12). A Venezuela lidera a lista mundial de refugiados e indivíduos que necessitam de proteção internacional.
O total de pessoas deslocadas por conflitos, violência e perseguição atingiu um pico de 123,2 milhões no final de 2024, diminuindo para 122,1 milhões no final de abril deste ano.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) aponta em seu relatório anual que essa pequena queda se deve ao retorno de quase dois milhões de sírios às suas casas após a queda do regime do presidente Bashar al Assad e mais de uma década de guerra.
Esse fator na Síria, somado à diminuição no número de refugiados afegãos, eleva a Venezuela à posição de país com o maior número combinado de refugiados e pessoas necessitando de proteção internacional. No final de 2024, o país contava com 370,2 mil refugiados e 5,9 milhões de pessoas em necessidade de proteção internacional, respectivamente, segundo o Acnur. Esse valor representa um aumento de 2% em relação a 2023.
A maior parte desses venezuelanos reside na América Latina, especialmente na Colômbia (que, com 2,8 milhões de habitantes, é o terceiro país do mundo com a maior população de refugiados), seguida por Peru (1,1 milhão), Brasil (605,7 mil), Chile (523,8 mil) e Equador (441,6 mil). Nos Estados Unidos, a maioria dos pedidos de asilo foi de venezuelanos (116,7 mil).
Rejeição do Governo Venezuelano
O governo do presidente Nicolás Maduro rejeitou o relatório, afirmando que ele continha “números manipulados” e que “confirma a degradação total desta agência da ONU”.
“Seus relatórios tornaram-se instrumentos de propaganda para justificar agressões, captar fundos e atacar nações soberanas como a Venezuela”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
Crise global
“O número de deslocados é atualmente o triplo do número de 2011 e demonstra uma profunda crise global” em torno “da proteção de civis”, alertou Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, na sigla em inglês), uma importante organização humanitária presente em cerca de 40 países.
Egeland alertou para a situação dos refugiados em todo o mundo, fazendo uma alusão velada aos Estados Unidos e à política restritiva de imigração do presidente Donald Trump, que desencadeou protestos na Califórnia e em outras partes do país.
“Estamos vendo muitos países se fechando e cortando drasticamente o financiamento humanitário (...) Há governos gastando em armas recursos que deveriam ser investidos nos refugiados e na proteção dos mais vulneráveis”, explicou Egeland.
O Acnur, no entanto, advertiu que a evolução dos grandes conflitos em todo o mundo determinará se o número voltará a aumentar.
Segundo a agência, o número de pessoas deslocadas à força é “insustentavelmente elevado”, em particular em um período de redução do financiamento humanitário.
“Vivemos um período de grande volatilidade nas relações internacionais, no qual a guerra moderna está criando um cenário frágil e devastador, marcado por um sofrimento humano grave”, afirmou Filippo Grandi, alto comissário da ONU para os refugiados.
“Devemos redobrar nossos esforços para buscar a paz e encontrar soluções duradouras para os refugiados e outras pessoas forçadas a fugir de suas casas”, acrescentou, em um contexto no qual o financiamento registra queda drástica, e não apenas pela retirada da ajuda humanitária por parte dos Estados Unidos.
Venezuelanos e colombianos pedem asilo
O Acnur destacou que os venezuelanos foram a segunda nacionalidade a apresentar o maior número de pedidos de asilo no ano passado, com 268.100. Os colombianos ficaram em quarto (149.500) e os sudaneses lideraram a lista (441.400).
No primeiro semestre de 2024 (últimos dados disponíveis), os Estados Unidos receberam um total de 729.100 pedidos de asilo. A maioria veio de países da América Latina e do Caribe, principalmente venezuelanos (116.700), colombianos (79.300), mexicanos (54.000) e haitianos (46.600).
As principais causas dos deslocamentos forçados continuam sendo os grandes conflitos: Sudão, Mianmar, Ucrânia...
O Acnur atualizou o número de refugiados ucranianos na Europa, que chegou a mais de 5 milhões no final de 2024. O maior número está na Alemanha: 1,2 milhão, um aumento de 10%.
Segundo a agência, até o final de 2025 quase 1,5 milhão de sírios procedentes do exterior e dois milhões de deslocados internos podem retornar para suas casas.
No final de 2024, havia seis milhões de refugiados sírios em todo o mundo e 5,8 milhões de afegãos.
Incluindo os deslocados internos, o Sudão enfrenta atualmente a maior crise do mundo, devido à guerra civil que se alastra desde abril de 2023.
O país africano teve um total de 14,3 milhões de deslocados à força, a maioria dentro de seu território, e pouco mais de dois milhões em países vizinhos.