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França pode taxar super-ricos: entenda polêmica que divide governo e população

Pedidos por ‘Justiça fiscal’ estão entre demandas de manifestação convocada para quinta-feira em toda a França, incluindo Paris; país enfrenta crise política

A discussão pela taxação dos super-ricos na França acontece em meio a pedidos de “justiça fiscal” e uma forte crise política

O novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, recebe pressão para implementar a “taxa Zucman”, que promete gerar imposto a patrimônios superiores a 100 milhões de euros – cerca de 626 milhões de reais. A discussão pela taxação dos super-ricos acontece em meio a pedidos de “justiça fiscal” e uma forte crise política.

O último primeiro-ministro francês, François Bayrou, renunciou no dia 9 de setembro. A informação foi divulgada em comunicado publicado por Emmanuel Macron. As discussões para o plano orçamentário de 2026, que começou a ser debatido nesta quarta-feira (17), fortaleceu a tensão que provocou a queda.

Em meio ao momento de crise política, Lecornu busca apoio da oposição socialista, que exige várias medidas, incluindo a taxação dos super-ricos. O grupo socialista se reuniu com o primeiro-ministro nesta quarta-feira, mas não ficou satisfeito com as posições do político de centro-direita.

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“Nós mesmos já expressamos muitas de nossas opiniões”, disse Olivier Faure ao Le Parisien. “Sébastien Lecornu tem sido escasso em seus pensamentos. Não sabemos realmente o que ele quer fazer, e ele não deixou claro qual é a intenção dele”, completou o político de oposição.

A medida proposta pelos socialista taxaria em 2% ao ano os patrimônios superiores a 100 milhões de euros (626 milhões de reais), o que afetaria 0,01% dos contribuintes, segundo seu promotor, o economista francês Gabriel Zucman.

De acordo com o economista, o novo imposto promete arrecadar 20 bilhões de euros (125 bilhões de reais anuais). A receita seria importante para o governo que, sob pressão, busca reduzir o déficit (5,8% do PIB em 2024) e a dívida pública (114%).

O valor poderia representar quase metade da economia proposta pelo antecessor de Lecornu em plano orçamentário para 2026 rejeitado pelo parlamento. As propostas de François incluia cortes sociais e a eliminação de dois feriados.

“Estamos diante de um bloqueio orçamentário, político, pela recusa em abordar seriamente o problema da não tributação dos super-ricos”, disse Zucman à rádio France Inter.

Apoio da população

As demandas por “justiça fiscal” são tema dos protestos de 10 de setembro. Assim como na greve convocada pelos sindicatos para quinta-feira (17). Os protestos devem movimentar a população em diversas cidades francesas, incluindo Paris.

De acordo com o jornal Le Parisien, até 100 mil manifestantes devem ir às ruas, apenas em Paris. “O orçamento será decidido nas ruas”, garantiu a líder do CGT, Sophie Binet.

Uma pesquisa da Ifop, contratada pelos socialistas, estima que 89% dos franceses apoiam a implementação da “taxa Zucman” e 79% apoiam a redução dos subsídios às grandes empresas.

Apoio popular, mas rejeição governamental e empresarial

Embora o novo primeiro-ministro tenha prometido “rupturas” com seus antecessores, a taxa Zucman ainda não está entre as propostas de Lecornu. Entre os primeiros atos de governo, é possível destacar a renúncia à supressão de feriados e o fim dos benefícios “vitalícios” para ex-membros do governo.

Os aliados republicanos (direita) no governo também rejeitam a taxa aos super-ricos, assim como a oposição de extrema direita de Marine Le Pen. A federação patronal Medef também ameaçou com uma “grande mobilização” dos grandes empresários, caso os impostos sejam aumentados.

A associação ainda qualificou a taxa Zucman como “forma de expropriação”. O aviso é considerado inédito durante o mandato de Macron, que, desde sua chegada ao poder em 2017, reduziu os impostos às empresas e grandes fortunas em nome da competitividade e da atratividade da segunda maior economia da União Europeia.

*Com AFP

(Sob supervisão de Edu Oliveira)

Rebeca Nicholls é estagiária do digital da Itatiaia com foco nas editorias de Cidades, Brasil e Mundo. É estudante de jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH). Tem passagem pelo Laboratório de Comunicação e Audiovisual do UniBH (CACAU), pela Federação de Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e pelo jornal Estado de Minas