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Homem se submete a procedimento extremo para criar antídoto contra veneno de cobra

Experiência extrema de imunização de Tim Friede leva cientistas a desenvolver anticorpos eficazes contra diferentes tipos de veneno

Tim Friede permitiu que duas cobras o mordessem no porão de casa no dia seguinte aos ataques de 11 de setembro de 2001. Quatro dias depois, saiu do coma. “Sei como é a sensação de morrer por causa de uma picada de cobra”, afirmou em entrevista por videochamada à AFP.

Entre 2000 e 2018, Friede foi mordido por serpentes mais de 200 vezes e injetou veneno no próprio corpo em mais de 650 ocasiões. O objetivo era desenvolver imunidade total, prática conhecida como mitridatismo. “Estou esperando essa ligação há muito tempo”, disse ao imunologista Jacob Glanville, o primeiro pesquisador a mostrar interesse científico em seu caso.

Em maio, um estudo publicado na revista Cell apresentou resultados com anticorpos extraídos do sangue de Friede. O experimento mostrou que o material biológico dele protegeu camundongos contra os efeitos de venenos de 13 das 19 espécies de cobras testadas. Houve proteção parcial nas demais.

“O antídoto usa dois anticorpos do Tim e uma molécula chamada varespladib”, explicou Glanville. Segundo ele, os próximos testes devem ser realizados em cães na Austrália. A equipe trabalha com a meta de produzir um antídoto universal, aplicado por autoinjetor e fabricado na Índia para reduzir custos.

A pesquisa é acompanhada por especialistas da Unidade de Pesquisa em Veneno da Austrália. Para o pesquisador Timothy Jackson, os resultados são relevantes, mas o uso de um voluntário humano no experimento levanta questões éticas. “Já existem anticorpos sintéticos disponíveis”, afirmou.

Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que picadas de cobra matam até 138 mil pessoas por ano. Outras 400 mil vítimas sofrem amputações ou sequelas. A maioria vive em regiões pobres e remotas.

“Estou orgulhoso por ter feito uma pequena diferença”, disse Friede, que tentou durante anos convencer cientistas a aproveitar sua imunidade para fins médicos.

*Com informações da AFP

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Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento