Uma singela biblioteca que está, ao mesmo tempo, nos Estados e no Canadá virou motivo de disputa diplomática por conta das políticas migratórias de Donald Trump.
Há 120 anos,
Nos cômodos do imóvel, uma faixa preta marca no chão a fronteira livre onde moradores das duas cidades sempre puderam compartilhar livros, abraços e longas conversas. Aos canadenses, bastava dar a volta na calçada para entrar no lado americano sem passaporte ou pedido de autorização. Com Donald Trump na presidência, isso não tem sido mais possível.
Desde o fim de março, agentes do Customs and Border Protection (alfândega e monitoramento de fronteiras dos EUA) impedem a entrada de canadenses, que agora precisam procurar um posto de fronteira para fazer os trâmites burocráticos. Por enquanto, só podem cruzar a linha imaginária os leitores com carteirinha da biblioteca Haskell. A partir de 1º de outubro, somente agentes de emergências poderão atravessar a fronteira livremente.
A medida colocou leitores dos dois lados da fronteira contra Trump. A Haskell anunciou que vai abrir uma porta do lado canadense para permitir o acesso de leitores, mas as obras devem custar US$ 100 mil por questões de acessibilidade. Enquanto isso, doações já chegam a US$ 140 mil, e uma saída de emergência tem sido temporariamente usada para não impedir os momentos de leitura.
No site oficial,
Prédio tem tijolos em estilo vitoriano
“Criminosos e contrabandistas”
“A biblioteca é “um símbolo da cooperação internacional” e a proibição “me parece mais um passo para construir um abismo entre os países, algo desprovido de curiosidade e compreensão”, afirmou o frequentador Allyson Howell à Associated Press.
O prefeito Jody Stone, de Stanstead, classifica a decisão da administração Trump como “sem sentido”, mas não crê em um rompimento na comunidade. “Não importa o que o governo faça, isso não vai mudar o fato de que as cidades de Stanstead e Derby Line são parceiras e amigas para sempre”.
Em fevereiro, o Boston Globe noticiou que a Secretária de Segurança Interna dos EUA Kristi Noem visitou a biblioteca, se recusou a atravessar para o lado canadense e repetiu afirmações de Trump de querer o Canadá como 51º estado americano.
O departamento alegou ao jornal inglês The Guardian que “traficantes e contrabandistas exploravam a entrada sem passar pela alfândega”, e que a medida vai “acabar com a atividade criminosa e proteger os americanos”. No entanto, não informou crimes recentes registrados ali.
O The Guardian levantou que o último crime na Biblioteca Haskell ocorreu em 2018, quando um homem foi condenado por contrabandear munições em uma mochila.