Um dia após a visita dos chefes do Estado-Maior dos exércitos francês e britânico a Kiev, o presidente Volodymyr Zelensky demonstrou satisfação com o “progresso tangível” e os “detalhes iniciais” sobre o envio de um contingente europeu para o território ucraniano quando um cessar-fogo for concluído com a Rússia.
“Há um progresso tangível e detalhes iniciais sobre como um contingente de segurança parceiro poderia ser mobilizado”, disse Zelensky, sem dar mais detalhes.
França e Reino Unido propõem enviar soldados de países europeus à Ucrânia para formar uma “força de segurança”, com o objetivo de impedir a retomada do conflito quando um cessar-fogo for estabelecido com Moscou.
Esta proposta “não conta com apoio unânime”, reconheceu o presidente francês, Emmanuel Macron, em março.
O chefe do Estado-Maior francês, Thierry Burkhard, disse no sábado (5) que ele e seu colega britânico discutiram o fortalecimento das Forças Armadas ucranianas e “opções de garantias” a serem fornecidas “assim que o cessar-fogo for implementado”.
“Juntos, queremos garantir uma paz duradoura e sólida na Ucrânia, uma condição essencial para a segurança do continente europeu”, afirmou o general Burkhard no X.
Durante a visita, os dois líderes militares europeus mantiveram discussões com o general Oleksandr Syrsky, chefe do Estado-Maior ucraniano, o ministro da Defesa, Rustem Umerov, e o presidente Volodymyr Zelensky.
“O tópico principal (da visita) foi o envolvimento de parceiros no estabelecimento de acordos de segurança na Ucrânia após o fim das hostilidades”, disse Rustem Umerov no Facebook no sábado.
O objetivo desta visita era “trocar [informações] sobre as necessidades e os objetivos do exército ucraniano para apoiá-lo a longo prazo na reconstrução e no desenvolvimento de seu modelo”, declarou o Estado-Maior Francês das Forças Armadas em um comunicado à imprensa.
Tratava-se, portanto, de garantir “a manutenção de um apoio determinado ao exército ucraniano, permitindo-lhe continuar a luta” contra a Rússia, segundo o general Burkhard, bem como definir “uma estratégia de longo prazo para a reconstrução e transformação do modelo do exército ucraniano, a principal garantia da segurança deste país”.
A Rússia se opõe a qualquer tipo de ajuda dos europeus para armar o exército da Ucrânia. Para o Kremlin, tanto a presença de soldados de países da Otan (aliança militar ocidental) em território ucraniano quanto a continuidade do fornecimento de armas a Kiev seriam considerados como atos de guerra contra Moscou.
Zelensky critica reação ‘fraca’ dos EUA a bombardeio
Os habitantes de Kryvyi Rih, cidade natal de Zelensky no centro da Ucrânia, viveram um dia de luto neste sábado,
Zelensky criticou a “fraca” reação da embaixada americana na Ucrânia, e afirmou que os Estados Unidos têm “medo” de dizer que o míssil responsável veio da Rússia.
Na noite de sexta-feira (4), a embaixadora dos EUA no país, Bridget Brink, declarou em um comunicado que estava “chocada” com este “bombardeio de mísseis balísticos”, sem mencionar sua origem.
“A reação da embaixada americana é desagradavelmente surpreendente. Um país e um povo tão fortes, e uma reação tão fraca”, criticou Zelensky no sábado. “Eles têm até medo de dizer a palavra ‘russo’ quando falam sobre o míssil que matou as crianças”, acrescentou ele nas redes sociais.
Após as críticas de Zelensky, a embaixadora americana mencionou os “ataques russos” durante uma visita a Kharkiv, no nordeste da Ucrânia.
É raro que o líder ucraniano adote publicamente um tom mais crítico ao falar sobre seus aliados. Os Estados Unidos têm sido o principal aliado militar e financeiro de Kiev desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, mas o presidente Donald Trump intensificou as críticas a Zelensky nos últimos meses.
No final de fevereiro, Trump teve uma discussão truculenta com Zelensky diante de câmeras de TV instaladas no Salão Oval da Casa Branca, durante a primeira visita oficial do ucraniano aos EUA desde a posse. Embora as tensões tenham diminuído desde então, os laços entre os dois homens ainda parecem frágeis.
Trump se aproximou do presidente russo, Vladimir Putin, com quem ele diz querer negociar o fim da guerra o mais rápido possível. Mas a mão estendida para Moscou foi mal recebida em Kiev, embora Trump também tenha ameaçado a Rússia com novas sanções.
A diplomata americana Bridget Brink foi nomeada embaixadora em 2022 pelo ex-presidente democrata Joe Biden, que assumiu uma posição muito mais dura contra o Kremlin. Em recentes reações aos ataques na Ucrânia, ela evitou nomear diretamente a Rússia, algo que fazia regularmente até então.
O ataque de sexta-feira contra a cidade de Zelensky foi um dos piores das últimas semanas, devido à idade dos civis atingidos.
Vídeos circulam nas redes sociais
Vários vídeos não verificados, porém compartilhados nas redes sociais, mostram corpos de vítimas, incluindo o de uma criança em frente a um balanço. Em outro vídeo particularmente compartilhado no país em guerra, socorristas tentam reanimar um menino inconsciente, que não resistiu aos ferimentos, segundo informaram mídias ucranianas. Cerca de 60 pessoas também ficaram feridas na explosão, de acordo com as autoridades locais.
Enquanto as negociações lideradas pela Casa Branca parecem não avançar, Rússia e Ucrânia continuam a se acusar mutuamente de bombardear instalações energéticas dos dois lados da fronteira.
A Ucrânia afirma ter derrubado 51 de 92 drones russos lançados contra seu território, na noite de sexta para sábado. Outros 31 drones russos foram interceptados eletronicamente ou desviados de sua trajetória.
Já o ministério da Defesa russo declarou no sábado que a Ucrânia intensificou os ataques à infraestrutura energética russa, atingindo 14 alvos em 24 horas, apesar da trégua concluída com os emissários americanos. Kiev desmente essas acusações, que não puderam ser verificadas pela agência Reuters.
Com agências internacionais