A artista brasileira Adriana Varejão apresenta, no Hispanic Society Museum & Library, em Nova York, uma exposição que une história, arte e natureza. Sua nova série de pratos em grandes formatos estabelece um diálogo com a coleção de cerâmicas do museu, mas com uma mudança de perspectiva: se antes seu olhar estava direcionado ao oceano, agora ele se volta para a floresta amazônica.
Varejão conta que a ideia surgiu após visitar a Hispanic Society e se encantar com o acervo. “Achei um lugar incrível, com uma coleção maravilhosa. Como tenho muito interesse em cerâmica, decidi estabelecer um diálogo com essa coleção. Assim, comecei a desenvolver no meu ateliê, no Rio de Janeiro, essa série de pratos em grandes formatos, que agora estão expostos aqui no meio do salão”, explica.
A exposição é inspirada na primeira Bienal das Amazônias, realizada em 2024, e reflete a biodiversidade da região. O animal escolhido para essa nova fase foi a mucura, um marsupial amazônico. Mas a relação da artista com a floresta vem de muito antes. “Desde 2003, realizo projetos na Amazônia. Naquele ano, tive a oportunidade de visitar a Reserva Yanomami e aprender muito sobre o bioma e a cultura local. Desde então, essa relação se fortaleceu e influenciou meu trabalho”, conta Varejão.
Natureza versus Colonialismo
Um dos destaques da exposição é uma instalação impactante: a representação de uma sucuri abraçando a estátua de El Cid, um embate visual entre natureza e colonialismo. Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid, foi um líder militar castelhano do século XI que desempenhou um papel crucial na Reconquista, expulsando os mouros de diversas regiões da Península Ibérica.
Para Varejão, a obra é uma provocação à simbologia da dominação. “Quando a gente entra na Hispanic Society, se depara com nomes de conquistadores e a
A exposição também desafia as hierarquias entre arte e artesanato, valorizando as influências das artes decorativas na produção contemporânea. “Sempre me interessei muito por artes decorativas. Nos anos 80, me referia ao barroco, depois aos azulejos portugueses, e agora a cerâmica tem um papel fundamental no meu trabalho. Me inspirei, por exemplo, na cerâmica portuguesa de Bordalo Pinheiro e em referências de diferentes períodos e culturas”, revela.
Em cartaz até junho e com entrada livre
A exposição “Don’t Forget, We Come From the Tropics” estará em cartaz no Hispanic Society Museum & Library de 27 de março a 22 de junho de 2025. Esta será a primeira exposição individual de Adriana Varejão em um museu de Nova York e a terceira nos EUA. Além das pinturas da sua série de pratos, a mostra apresenta uma intervenção escultórica ao ar livre, estabelecendo um diálogo entre passado e presente, história e natureza.