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Repórter é adicionado a grupo de informações secretas do governo Trump

Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista ‘The Atlantic’, foi adicionado ao grupo por engano e viu informações sobre bombardeios no Iêmen; Casa Branca nega

O editor-chefe da revista ‘The Atlantic’ foi adicionado a um grupo de conversas de integrantes do governo de Donald Trump onde foram compartilhadas mensagens que revelavam planos de ataque dos Estados Unidos ao Iêmen. O bombardeio, que tinha como foco os Houthis, grupo aliado do Irã e do Hamas, foi realizado no dia 15 deste mês.

“O governo Trump acidentalmente me mandou seus planos de guerra em mensagens de texto”, dizia o título do texto publicado por Jeffrey Goldberg nesta segunda-feira (24) na revista. No escrito, ele detalha mensagens de diversos homens da alta cúpula do governo, como J.D Vance, vice-presidente, Michael Waltz, o Conselheiro de Segurança Nacional, Pete Hegseth, Secretário de Defesa, entre outros.

A princípio, Jeffrey não acreditou na veracidade do grupo, principalmente devido ao relacionamento da administração de Trump com jornalistas. Quem o adicionou ao grupo foi um usuário identificado como Michael Waltz.

O editor-chefe relatou que não conseguia acreditar que a alta cúpula do governo Trump usaria um aplicativo como o Signal para trocar mensagens com assuntos sensíveis e secretos, mesmo que ele seja criptografado.

Goldberg detalhou algumas conversas entre os integrantes daquele grupo. Ele foi adicionado ao chat no dia 11 de março e, a partir do dia 14 de março, passou a ver as mensagens de cunho sensível trocadas pelos integrantes. Em uma das mensagens, J.D Vance diz que “odeia salvar a Europa de novo” porque, para eles, os europeus se beneficiam das campanhas militares dos EUA e não oferecem algo em troca.

Já no dia 15 de março, dia do ataque, Pete Hegseth, Secretário de Defesa dos EUA, publicou no grupo informações sobre alvos e detalhes sobre os ataques aos Houthis. Ele, porém, não disponibilizou as mensagens porque elas poderiam “prejudicar o pessoal militar e de inteligência americano, particularmente no Oriente Médio”.

Todas as mensagens fizeram sentido quando, ainda no dia 15, os ataques ao Iêmen foram concretizados em Saana. Essa foi a maior operação militar dos Estados Unidos no Oriente Médio desde o retorno de Trump à presidência.

O porta-voz Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes, afirmou ao jornalista que “a troca de mensagens que foi relatada parece ser autêntica” e que eles estavam “revisando como um número inadvertido foi adicionado ao grupo”.

“O tópico é uma demonstração da coordenação política profunda e ponderada entre altos funcionários. O sucesso contínuo da operação contra os Houthis demonstra que não houve ameaças às tropas ou à segurança nacional”, disse.

Goldberg afirmou que o Signal não é um canal autorizado pela Casa Branca para compartilhamento de informações sensíveis. Segundo ele, o governo tem sistemas exclusivos para esses fins. Ele classificou a situação como “incomum”.

“Nunca vi uma violação como essa. Não é incomum que autoridades de segurança nacional se comuniquem no Signal. Mas o aplicativo é usado principalmente para planejamento de reuniões e outros assuntos logísticos — não para discussões detalhadas e altamente confidenciais de uma ação militar pendente. E, claro, nunca ouvi falar de um caso em que um jornalista tenha sido convidado para tal discussão”, escreveu Jeffrey.

Vale lembrar que, nos EUA, há a ‘Lei de Espionagem’, promulgada no Congresso após o início da Primeira Guerra Mundial, que pune as pessoas que colocarem em risco informações confidenciais do governo americano. Para o “The Atlantic”, a inclusão de Jeffrey ao grupo pode ter infringido essa lei.

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O que diz a Casa Branca?

Nesta manhã, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou no X que Jeffrey Goldberg é “bem conhecido por seu teor sensacionalista”.

“Aqui estão os fatos sobre a última história dele:

1 - nenhum “plano de guerra” foi discutido

2 - nenhum material confidencial foi enviado no grupo

3 - O Gabinete do Conselheiro da Casa Branca forneceu orientação em diversas plataformas diferentes para que os principais funcionários do presidente Trump se comuniquem da forma mais segura e eficiente possível”, escreveu ela.

A porta-voz reiterou que “a Casa Branca está investigando como o número de Goldberg foi inadvertidamente adicionado ao grupo”. Segundo Leavitt, “graças à liderança forte e decisiva do Presidente Trump e de todos do grupo, os ataques aos Houthis foram bem-sucedidos e eficazes. Terroristas foram mortos e isso é o que mais importa para o Presidente Trump”.

Jornalista formada pela PUC Minas. Mineira, apaixonada por esportes, música e entretenimento. Antes da Itatiaia, passou pelo portal R7, da Record.
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