Uma empresa de gás natural encontrou cargas intactas do primeiro e mais antigo navio que naufragou no Mar Mediterrâneo, próximo a Israel. Após visitar o local, a Autoridade de Antiguidades de Israel (IAA) confirmou e divulgou nesta quinta-feira (20) a descoberta do naufrágio que ocorreu há cerca de 3.300 anos.
Embarcações e equipes da Energean, empresa de gás natural de E&P, que opera os campos offshore de Karish, Karish North, Katlan e Tanin, perto de Israel, realizavam uma pesquisa quando encontram a carga do navio a 90 km da costa, a uma profundidade de 1,8 km, no fundo do Mar Mediterrâneo.
Da carga intacta, foram identificadas ânforas (vasos antigos gregos) que eram usados para transportar produtos na embarcação relativamente baratos e produzidos em massa, como azeite, vinho e itens agrícolas, como frutas.
Segundo a IAA, o navio parece ter afundado em crise, devido a uma tempestade ou uma tentativa de ataque de pirataria, que era comum na no final da Idade do Bronze.
‘Este é o primeiro e o mais antigo navio encontrado nas profundezas do mar do Mediterrâneo Oriental. Esta é uma descoberta de classe mundial que muda a história: nos revela como nunca antes as capacidades de navegação dos antigos marinheiros – capazes de atravessar o Mar Mediterrâneo sem linha de visão para qualquer costa. Deste ponto geográfico, apenas o horizonte é visível ao redor. Para navegar, eles provavelmente usaram os corpos celestes, obtendo avistamentos e ângulos do sol e das posições das estrelas’, explica Jacob Sharvit, Chefe da Unidade Marinha da IAA.
Além dos técnicos da empresa que ajudaram na extração dos artefatos do navio, a Enaregan forneceu o seu robô submersível, utilizado nas pesquisas pelo fundo do mar, para ajudar na descoberta histórica junto a IAA.
A pesquisa e o mapeamento do local pelo robô esclareceram que se tratava de um navio naufragado de 12 a 14 metros de comprimento que transportava centenas de navios, dos quais apenas alguns são visíveis acima do fundo do oceano. ‘O fundo lamacento esconde uma segunda camada de embarcações e parece que as vigas de madeira do navio também estão enterradas na lama’, afirma o Dr. Karnit Bahartan, Chefe da Equipe Ambiental da empresa de gás natural.
Ao longo de dois dias de trabalho no mar, a equipe da Energean extraiu duas embarcações, cada uma de uma extremidade diferente do navio, para minimizar perturbações no conjunto intacto do barco e da sua carga.
Novo marco na história
Apenas outros dois naufrágios com carga são conhecidos do final da Idade do Bronze no Mar Mediterrâneo: os barcos Cabo Gelidonya e Uluburun. Ambos, porém, foram encontrados relativamente próximos da costa turca e eram acessíveis por equipamentos de mergulho regulares.
‘A descoberta deste barco muda agora toda a nossa compreensão das antigas capacidades dos marinheiros: é o primeiro a ser encontrado a uma distância tão grande, sem linha de visão para qualquer massa de terra. Há aqui um enorme potencial para investigação: o navio está preservado a uma profundidade tão grande que o tempo congelou desde o momento do desastre – o seu corpo e contextos não foram perturbados pela mão humana (mergulhadores, pescadores, etc.); nem afetado por ondas e correntes que impactam naufrágios em águas mais rasas’, diz Sharvit.
*Sob supervisão de Enzo Menezes