Ouvindo...

Ataques entre Irã e Israel podem envolver armas nucleares? Entenda arsenal dos dois países

Oficialmente, Israel é o único país do Oriente Médio que possui armas nucleares; Irã afirma que seu programa nuclear é pacífico, mas comunidade internacional desconfia de arsenal

À direita, Ebrahim Raisi (presidente do Irã); à esquerda, Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel)

O ataque iraniano a Israel, na noite do último sábado (13), aumentou as tensões no Oriente Médio e o receio de que o conflito se transforme em uma guerra regional. O professor de Relações Internacionais da PUC Minas e da Academia da Polícia Militar, Danny Zahreddine, explica que mesmo Israel sendo uma potência nuclear importante, armas nucleares não devem ser usadas no conflito.

“A utilização dessas armas contra o Irã geraria uma retaliação de aliados iranianos contra Israel. Além disso, não se tem clareza se o Irã já possui ou não armas nucleares. Tanto que muitas ações de Israel no passado foram no intuito de impedir o Irã de obter armas nucleares. Isso porque se o Irã as tiver, o equilíbrio de poder no Oriente Médio muda bastante”, explica Zahreddine.

Para o professor, Israel só usaria armas nucleares se a existência do seu Estado estivesse ameaçada.

“Os ataques que vimos foram limitados. Eles foram anunciados com antecedência para que Israel pudesse ter tempo de se defender, mas foram como uma resposta ao ataque israelense à embaixada do Irã em Damasco, na Síria, em 1º de abril. Essa foi uma resposta limitada, voltada contra alvos, em sua maioria, militares e sabendo da capacidade de Israel se defender da maior parte das armas. Então, a possibilidade do uso de armas nucleares nesse atual conflito é baixíssima”, ressalta.

Leia também

Israel tem quantas armas nucleares?

Israel é considerado o único país do Oriente Médio que tem armas nucleares, mesmo que não declare isso oficialmente. Israel também é um dos poucos países não signatários do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TPN), acordo assinado em 1968 para controlar o número de armas nucleares no mundo.

Apesar de ser confirmado que Israel tenha armas nucleares, o número é incerto.

“O número de armas varia dependendo da fonte que a gente observa. Mas a maior parte das fontes dizem que Israel tem entre 100 e 200 armas nucleares. Além disso, Israel tem mísseis balísticos e outras formas de enviar essas ogivas nucleares para os lugares de destino. Isso mostra que Israel é uma potência nuclear é muito importante”, afirma o professor.

Irã diz não ter armas nucleares, mas não há certeza

Em julho de 2015, o Irã assinou um acordo com as grandes potências ocidentais para limitar seu programa nuclear, que segundo ele é pacífico. Atualmente, o país já possui uma tecnologia avançada para o enriquecimento de Urânio, que o permitiria desenvolver armas nucleares.

O professor Danny Zahreddine explica que mesmo que o país declare que não tenha armas nucleares, há incerteza sobre o tema.

“O Irã está envolvido numa controvérsia sobre a sua energia nuclear há muitos anos. A dúvida que paira é sobre a existência ou não de armas nucleares naquele país. O Irã afirma que não possui, mas diante das atuais condições, isso tem incentivado o Irã a repensar seu programa nuclear”, comenta.

Zahreddine também afirma que a incerteza sobre o arsenal nuclear do país acaba protegendo ele contra ataques mais intensos. “Não saber com certeza se existe ou não armas nucleares diminui a possibilidade de um ataque mais violento de qualquer país contra o Irã", diz.

Armas nucleares equilibram poder na região

Ao contrário do que se pensa, a existência de armas nucleares entre adversários faz com que o poder de uma região, ou mesmo mundial, fique equilibrado. Os países optam por não utilizar as ogivas contra nações que também têm armas nucleares pelo medo de uma retaliação.

No caso do conflito entre Israel e Irã, até mesmo o arsenal nuclear dos aliados de cada país faz com que as armas nucleares não sejam usadas na região.

“A existência de armas nucleares pelos Estados Unidos, Reino Unido e França de um lado e, por outro lado, pela China, Rússia gera equilíbrio. Ao primeiro sinal de uma possibilidade de uso de armas nucleares por parte de Israel, quase que imediatamente as forças contrárias, como Rússia ou China, iriam sinalizar para os Estados Unidos e seus aliados o uso de armas nucleares contra eles. Isso poderia gerar uma guerra nuclear generalizada. É justamente por isso que existem as armas nucleares: para não serem usadas”, esclarece.


Participe dos canais da Itatiaia:

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.