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Professor analisa impactos de derrubada de supostos ‘ovnis’ na relação entre EUA e China

Professor explica que novos fenômenos tornam a situação mais delicada; redes sociais funcionam como caixas ressonância

EUA derruba quarto ‘objeto’ voador em menos de 10 dias

Caças americanos derrubaram, nesse domingo (12), um objeto que sobrevoava o Lago Huron, na fronteira entre Estados Unidos e Canadá. Foi o quarto objeto destruído em pouco mais de uma semana, informaram dois legisladores.

O que esse fenômeno diz sobre o cenário das relação entre esses países? ‘Objetos voadores’ já foram vistos antes? Quais os impactos da repercussão do ocorrido? Em entrevista à Itatiaia, o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) e especialista em relações internacionais Mário Schettino responde as principais questões sobre o tema.

Histórico

Nesse sábado (11), o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, informou que determinou a derrubada de um objeto não identificado que sobrevoava o espaço aéreo canadense. O objeto foi visto sobrevoando a região do Yukon.

No dia anterior, os Estados Unidos anunciaram o abatimento de um objeto que sobrevoava a região do Alasca. Não foi informado se o objeto abatido tem relação com o eliminado no Alasca.

No início do mês, um avião de combate americano derrubou, na costa da Carolina do Sul (EUA), um balão espião chinês que sobrevoava há dias os Estados Unidos, informou o Pentágono, que classificou incidente como uma “violação inaceitável” da soberania americana por Pequim. Ainda não se sabe se os casos estão relacionados.

Tática não é nova

Tanto durante a Guerra Fria quanto recentemente, há relatos de invasões de espaço aéreo. “Na América do Sul, por exemplo, há o caso de invasão da Colômbia do espaço aéreo da Venezuela para enfrentar guerrilheiros das FARCs”, explicou o especialista.

Ele ainda pontuou que, geralmente, essas invasões de espaço aéreo ocorrem em zonas de tensão entre os países e com diversos propósitos.

“Desde a própria espionagem sobre posicionamento de infraestrutura, equipamentos e tropas militares, até para testar o tempo de reação das forças de defesa”, completou.

Situação delicada entre países

O que é novidade é o atual contexto: dois fenômenos novos e que tornam a situação mais delicada. “Por um lado, a rivalidade entre EUA e China tem aumentado nos últimos anos, desde a retórica de eleição do Trump em 2016, a guerra comercial, as disputas envolvendo o 5G e outras questões econômicas”, explicou o professor.

“O reflexo disso é um aumento da percepção de ameaça que os norte-americanos têm da China, que se tornou uma percepção de grande frequência e em todo eleitorado, quando observamos os dados de eleitores republicanos, independentes e democratas”, acrescentou.

Por outro lado, o especialista explica que as redes sociais funcionam como “caixas ressonância” que provoca um aumento de engajamento a partir da mobilização das emoções das pessoas. “A resultante disso é o aumento da importância para alguns casos que, anteriormente, não teriam tanta atenção do público em geral, dos políticos e das autoridades públicas”, acrescentou.

Especulação aumenta impacto

Ele chama atenção como o balão tomou uma proporção maior do que em outros eventos semelhantes em décadas anteriores. “A ocorrência de outros dois objetos não identificados aumentam a especulação pela opinião pública enquanto o poder público é prudente para transmitir ao público informações mais precisas”, disse.

O professor aponta que, talvez, duas décadas atrás, o balão chinês não tivesse despertado tamanha atenção. “Isso porque não havia uma percepção de rivalidade entre EUA e China e também o uso das mídias sociais não era tão intenso e não pautava a mídia tradicional”, acrescentou.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.