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30 anos do Tetra: Parreira destaca momentos importantes do título mundial

Ex-treinador da Seleção Brasileira revelou bastidores da conquista da Copa do Mundo de 94

Parreira relembra título mundial de 94

Nesta quarta-feira (17), o título da Copa do Mundo de 94 completa 30 anos. Em entrevista à ESPN, Carlos Alberto Parreira relembrou os obstáculos que precisou superar com a seleção brasileira para chegar ao tetracampeonato mundial. O ex-treinador, que trata um câncer no sistema linfático, afirmou que a trajetória do Brasil nas Eliminatórias de 93 foi mais difícil do que a própria campanha no Mundial disputado nos Estados Unidos.

“De tudo, a coisa mais tranquila foi a Copa, porque o time ganhou uma autoridade tão grande que a gente não passou nenhum jogo sofrido, nem a final. A gente sempre teve um domínio e um controle dos jogos. O grupo era muito bom, muito consciente. A lembrança maior é o conjunto”, disse Parreira.

O ex-técnico foi entrevistado pelo ex-jogador Zinho, titular da sua seleção em 94 e, hoje, comentarista. Parreira recordou as cobranças sofridas pelo grupo e disse que até hoje considera excessiva a pressão imposta ao time nacional.

“Era pressão demais nas Eliminatórias”, afirmou. “Tem um jogo que não vou esquecer jamais, foi contra o Equador, em São Paulo. Não era o jogo em si, mas o ambiente, a imprensa, todos os jornais, rádios e televisões. Era uma pressão que eu dizia: ‘Onde nós estamos? Por que isso, naquele tamanho e naquela proporção?’ Entramos em campo e jogamos com a cabeça no lugar... Foi um jogo difícil, o torcedor estava dividido”, recordou, ao citar a vitória por 2 a 0.

“Eu tentava entender [os motivos da pressão] e não conseguia. E não consigo até hoje. Aquele foi o melhor teste para a seleção, emocionalmente falando. Acho que o jogo no Morumbi a tensão foi muito maior do que no último jogo das Eliminatórias, contra o Uruguai, no Maracanã. O Maracanã é a nossa casa.”

Para o ex-treinador, a união do grupo evitou oscilações emocionais no elenco da seleção. “Nós, comissão técnica e jogadores, tivemos que ter força para enfrentar aquilo tudo porque chegou um momento que a gente não entendia. Criticar é uma coisa, destruir é outra, pô. Os caras não queriam criticar, queriam destruir. Se não estivéssemos unidos, não teríamos superado.”

Depois da partida em São Paulo, a seleção enfrentaria o Uruguai. O jogo era decisivo para selar a vaga na Copa. E, para tanto, teria um reforço de peso. Romário, que vinha sendo preterido nas Eliminatórias, apesar de viver sua melhor fase da carreira, voltou a ser convocado.

Ele explica que decidiu sozinho pelo retorno do atacante, contando com o apoio de Zagallo, então coordenador técnico da seleção. “Existia uma pressão muito grande e a gente nunca sucumbiu. Chegou naquele jogo (contra o Uruguai), a importância daquele jogo... Eu dormi pensando naquilo e acordei de manhã decidido: ‘vou trazer o Romário’. Falei para o Zagallo: ‘Estou trazendo o Romário’. E ele: ‘Parreira, traz mesmo!’ Pronto! Foi assim”, lembrou.

“Eu conversei com o Zagallo, não teve mais ninguém envolvido nesta história. Não foi sugestão ou opinião de ninguém. Porque o Romário era o homem, né? Por razões adversas, eu não sei por que ele acabou ficando fora das Eliminatórias. Nunca houve briga comigo, nunca houve nada. E agora era a hora de ele vir (para a seleção). E ele veio com o espírito, com uma vontade, com aquele poder de decisão que ele tinha”, completou.

O técnico do tetra negou também que tivesse planejado colocar Romário no mesmo quarto que Dunga durante a Copa. “Isso não foi pensado, mas foi uma coincidência, uma coincidência boa, bem positiva”, afirmou, entre risos.

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Mudança na escalação

Parreira também lembrou das decisões difíceis que precisou tomar sobre a escalação do time ao longo da Copa. A maior mudança foi a troca de Raí, capitão do time e consagrado pelos títulos com o São Paulo, por Mazinho, no meio-campo. Ao lembrar do episódio, ele culpou a transferência de Raí, do São Paulo para o Paris Saint-Germain, pela queda de rendimento do meia durante a Copa.

“O Raí era o capitão do time, um profissional e um ser humano fantásticos. Nas Eliminatórias, nos ajudou muito. A ida dele para o PSG atrapalhou muito a carreira dele, pelos treinamentos, pela mudança de hábito... até ele se adaptar. Ele veio para a Copa fora de forma. O Raí era um cara de 85kg. Se não estivesse na ponta dos cascos... Ele tinha que estar muito bem fisicamente para aguentar o ritmo de um jogo.”

A troca ajudou a melhorar o rendimento do meio-campo ainda na fase de grupos do Mundial. “Não houve nenhum problema [na hora de fazer a troca]. O Raí aceitou. O nosso ambiente era muito bom. Você não ganha apenas com um grande treinador, uma grande comissão técnica e grandes jogadores, o ambiente de trabalho é muito importante.”

Parreira também defendeu o estilo de jogo daquela seleção, criticado até hoje pelo futebol considerado burocrático e defensivo. “A seleção nunca foi defensiva, era organizada”, rebateu. “Eu aprendi com os melhores. Eu estive na Copa de 70, fui preparador físico, acompanhei desde o início. E a seleção de 70 era organizada, ganhou porque tinha jogadores excepcionais, mas também porque se organizava sem a bola”, declarou.

Parreira fez questão de destacar a qualidade dos jogadores que tinha em mãos em 94. “Não fomos campeões do mundo por acaso.”

Carlos Alberto Parreira revelou no início deste ano que passa por um tratamento quimioterápico desde o ano passado, quando descobriu um câncer. Ele recebeu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin, um tipo de câncer que acomete o sistema linfático. A doença é curável. Em janeiro, a família do técnico do tetra informou que ele apresentava “excelente resposta” ao tratamento.

Com agência


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