Meio-campista paraguaio do São Paulo,
“Olá a todos, aqui para falar um pouco sobre o que aconteceu ontem à noite. Primeiro, foi um jogo muito quente, um clima tenso durante todo o jogo. Depois do nosso segundo gol, tive uma discussão com o jogador do Talleres”, iniciou Bobadilla.
“Fui ofendido primeiramente e também tratado com um pouco de desprezo. Nunca tive a intenção de discriminar ninguém. No calor, reagi mal. Queria pedir desculpas publicamente a ele. Se tiver oportunidade de falar com ele pessoalmente, vou pedir desculpas também. Bem, só queria esclarecer isso, e um grande abraço a todos”, completou, nos Stories do Instagram.
O caso ocorreu após o gol da vitória do São Paulo sobre o Talleres por 2 a 1, nessa terça-feira (27), no Morumbis, na capital paulista, pela sexta e última rodada da fase de grupos da Copa Libertadores. Bobadilla e Navarro discutiram no meio do campo após o gol, e a confusão começou.
Navarro começou a chorar em campo, o que chamou atenção de todos presentes. Após conversa acaloradas dos jogadores e também da arbitragem, a partida seguiu até ser finalizada.
Após a partida, Navarro seguiu à zona mista e disparou: “Eu estava dizendo ao árbitro para se apressar, porque precisávamos jogar. Aí, do nada, Bobadilla veio e me disse ‘venezuelano morto de fome’. Eu quis sair do jogo, mas, infelizmente, não tínhamos mais substituições. Não quis deixar meu time com um jogador a menos. Minha cabeça não estava mais lá naquele momento. A justiça deve ser feita, isso não pode continuar acontecendo”.
Depois de prestar depoimento na delegacia do Morumbis, Navarro escreveu uma mensagem no Instagram. “Quisera eu ter em minhas mãos a solução da fome que vive o meu país. Espero que Deus me dê em abundança para ajudar. Não acredito que se possa fazer muito contra a pobreza. Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei até as últimas consequências frente ao ato de xenofobia que vivi no Brasil nas mãos de Damián Bobadilla, no futebol não há espaço para os discursos de ódio”.
A Polícia Civil de São Paulo espera, até sexta-feira (30), o depoimento Bobadilla na Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE). O jogador do Tricolor Paulista irá depor assim que for intimado, o que pode ocorrer entre esta quarta e sexta.
O São Paulo também se posicionou. Veja, na nota oficial abaixo:
O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais.
Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.
O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma.
O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.
Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa - ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo - entendemos ser fundamental que o Clube ofereça suporte institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance.
O que diz a legislação
A Lei nº 7.716/1989 tipifica os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) adota uma interpretação mais ampla, considerando a xenofobia — o preconceito contra estrangeiros ou pessoas de outras nacionalidades — uma forma de racismo.
A pena prevista nesses casos é de reclusão de um a três anos, além de multa. Navarro prestou depoimento por cerca de meia hora na base da Polícia Militar no estádio do Morumbis e, em seguida, foi encaminhado ao Juizado Especial Criminal (JECrim) para registrar o boletim de ocorrência, na noite da última terça-feira (27).
O São Paulo ainda não se pronunciou oficialmente, alegando que aguarda notificação formal e mais esclarecimentos sobre o episódio. Bobadilla deixou o estádio rapidamente após o apito final da partida contra o Talleres. Outros jogadores do Tricolor também saíram com pressa, em razão da folga programada para esta quarta-feira (28), antes que Navarro prestasse depoimento às autoridades.
Policiais militares e civis chegaram a entrar no vestiário do São Paulo em busca de Bobadilla, mas ele já havia deixado o local. O presidente Julio Casares também esteve no vestiário. Segundo apuração da Itatiaia, a ação ocorreu de forma tranquila e sem qualquer confusão.