Uma das armas do Fluminense na briga pela vaga na decisão da Copa Libertadores é o atacante John Kennedy, de 21 anos, revelado em Xerém, onde fica o centro de treinamentos das categorias de base do clube. O que pouca gente sabe é que o garoto, mineiro de Itaúna, passou antes por América, Cruzeiro e Atlético. Por motivos diferentes, o jogador não ficou em Minas e se transformando numa promessa do Tricolor. Nesta quarta-feira, a partir das 21h30, ele estará em ação contra o Internacional, no Maracanã, no jogo de ida da semifinal do torneio continental.
Dispensado por América, Cruzeiro e Atlético
A trajetória de John Kennedy pelos grandes clubes da capital mineira começou no América. Com 11 anos, ele deixou Itaúna para morar em Belo Horizonte numa casa mantida pelo clube. Lá, ele teve um problema com um colega que o xingou. A briga resultou em seu desligamento do Coelho.
“A senhora que tomava conta da casa chamou o coordenador da base do América e relatou o ocorrido. E a decisão foi pela dispensa dele. Eu falei com o dirigente que o John Kennedy tinha muito potencial e que ele precisava ter paciência, pois isso é coisa de menino, mas a decisão estava tomada”, revela Giba, empresário que descobriu o atacante do Fluminense nesta época e passou a cuidar da carreira dele.
Um táxi levou John Kennedy para a casa dos pais em Itaúna. Mas ele voltou a Belo Horizonte, já com 13 anos. Dessa vez, a oportunidade era para jogar no Cruzeiro.
“Ele ficou uma semana treinando como centroavante, que é a posição dele. Mas num determinado dia, o treinador falou que queria vê-lo atuando como lateral-direito. O John disse que não jogava na posição, pois gosta é de fazer gols. O técnico disse que ia me ligar. Ele falou que podia ligar até para o papa, mas que ele não ia para a lateral”, conta Giba.
Mais uma vez, John Kennedy foi dispensado, apesar dos apelos de Giba de que o garoto tinha personalidade forte, mas muito potencial: “Falei com o Seu Carlinhos (Katira), que cuidava da base do Cruzeiro, que era claro que o John Kennedy era diferente, mas ele disse que infelizmente a decisão já estava tomada”.
No Atlético, o espaço para John Kennedy foi ainda menor. O atacante praticamente nem foi avaliado. Isso o obrigou a retornar mais uma vez a Itaúna, onde atuou por um time local por muito pouco tempo.
Social de São João del-Rei
Sem espaço na capital, o jogador passou um período curto em Conselheiro Lafaiete (a 83km de BH), sua última estada antes de chegar ao Social, de São João del-Rei, sua última equipe em Minas Gerais.
O clube precisava de um centroavante na categoria sub-15. Logo de cara, John Kennedy mostrou serviço e foi a solução.
“O John Kennedy chegou ao Social pelas mãos do seu empresário, o Giba. No primeiro treino, ele já foi aprovado. Chegou, participou de um coletivo e mostrou qualidade. Desde o início deu para perceber que era um jogador muito talentoso, com uma agressividade muito grande. Sempre mostrou capacidade técnica e coragem para encarar os duelos um contra um. E sempre bateu bem na bola”, conta André Luiz, ex-zagueiro do Atlético e coordenador de futebol do clube de São João del-Rei.
A vitrine de John Kennedy
Apesar de ser Sub-15, o talentoso atacante foi levado para o Sub-17 para disputar a Taça BH de 2017, com etapa realizada justamente em São João del-Rei. Com praticamente todos os grandes clubes do Brasil na cidade, o torneio de base era uma grande vitrine. E John Kennedy não desperdiçou essa chance.
“Um jogo do Social contra o Red Bull foi decisivo. Nossa chave contava ainda com o Santos e o Botafogo. O Ricardo Corrêa, que era chefe da captação da base do Fluminense, viu o potencial dele e foi agendada uma ida ao Rio de Janeiro, com outros garotos que também tinham se destacado pelo Social, mas todos eram Sub-17. Só o John Kennedy era Sub-15”, contra André Luiz.
Concorrência de selecionáveis no Fluminense
Assim, John Kennedy foi parar no centro de treinamentos da base tricolor, em Xerém, um distrito de Duque de Caxias. Quando chegou, havia três centroavantes, dois deles com passagens pela Seleção Brasileira de base, mas o talentoso mineiro de Itaúna se garantiu.
Na transferência, ficou acertado entre Social e Fluminense que o time carioca passaria a ter 60% dos direitos econômicos do jogador. Os outros 40% seguem com o clube de São João del-Rei.
John Kennedy ganhou o status de uma das joias de Xerém, mas o processo para chegar ao profissional não foi muito fácil.
“Ele viveu uma certa dificuldade na transição da base para o time principal. Não é um processo fácil. De repente, um garoto passar a ganhar um grande salário. Foram necessárias muitas idas dos pais dele ao Rio, mas agora está estabilizado e o resultado é mostrado no campo”, revela Giba.
Empréstimo à Ferroviária-SP
Neste ano, o atacante, que tem dois filhos e está com a mãe morando no Rio de Janeiro, jogou o Campeonato Paulista pela Ferroviária, de Araraquara, onde se destacou. Para Giba, isso foi fundamental, pois John Kennedy teve uma assistência muito boa no clube e soube aproveitar a oportunidade. No clube paulista, o atacante marcou seis gols em 11 jogos.
“O processo é de ajustar, mostrar que ele pode ter muito mais com o futebol, pois a qualidade dele é muito grande. Graças a Deus ele está bem”, revela Giba.
Retorno e ascensão meteórica
Desde a volta ao Fluminense, em março, John Kennedy teve uma ascensão meteórica, até se tornar titular num elenco repleto de estrelas. Até aqui, são 28 jogos, com sete gols e três assistências.
John Kennedy foi fundamental para a classificação do Fluminense nas quartas de final da Libertadores, diante do Olimpia, do Paraguai. Agora, aparece como uma das armas de Fernando Diniz diante do Internacional, a última barreira antes da decisão, . O jovem mineiro pode ajudar o clube das Laranjeiras a acabar com seu maior trauma, que é a ausência de um título internacional oficial na sua galeria.