Fernando Diniz será apenas o quarto treinador neste século que também foi jogador do Cruzeiro. Como meia, ele defendeu o clube na temporada de 2004, sem brilho e entrando em campo apenas oito vezes, sem balançar a rede, numa temporada em que a crise rondou a Toca da Raposa após a histórica Tríplice Coroa do ano anterior. Agora chega à Toca da Raposa II com o desafio de substituir Fernando Seabra, demitido no início da manhã desta segunda-feira (23).
A lista que o novo comandante celeste passa a integrar conta ainda com os nomes dos ex-zagueiros Adilson Batista e Abel Braga, além do atacante Deivid.
Como jogadores, Adilson e Deivid fizeram história com a camisa azul, já Abel teve uma passagem em que criou identidade com a torcida, em 1981 e 1982, mas sem ganhar uma taça sequer, assim como aconteceu com Fernando Diniz.
Adilson Batista foi bicampeão da Supercopa, em 1991 e 1992. Já Deivid o time que venceu a Tríplice Coroa, em 2003. Embora tenha sido negociado com o Bordeaux, da França, no meio da temporada, ele participou, e com destaque, das conquistas do Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Brasileirão, que tinha ele como artilheiro quando aconteceu a negociação.
Se não brilhou como jogador, o desafio de Diniz, atual campeão da Copa Libertadores dirigindo o Fluminense, é construir uma história diferente às de Adilson Batista, Deivid e Abel Braga como treinadores do Cruzeiro, pois eles não conseguiram levantar nenhuma grande taça, o que é a pretensão celeste com certeza diante do investimento na equipe.
Na sua primeira passagem pela Toca da Raposa como treinador, Adilson Batista viveu tempos de idolatria, principalmente pelo grande desempenho do seu time nos clássicos contra o Atlético. Era ele o comandante nas duas goleadas de 5 a 0 da Raposa sobre o Galo, em jogos de ida das decisões do Campeonato Mineiro de 2008 e 2009, únicas conquistas dele no comando celeste.
Esses dois placares são as maiores goleadas da história do clássico no Mineirão. Nas chamadas grandes competições, Adilson Batista bateu na trave três vezes. A mais clara delas foi a Libertadores de 2009, quando o Cruzeiro perdeu a taça para o Estudiantes, da Argentina, dentro do Gigante da Pampulha, sendo derrotado por 2 a 1, de virada, num jogo em que o vencedor seria campeão sul-americano.
Nos Brasileirões de 2008 e 2009 também seu time fez bonito e chegou a brigar pela taça em algum momento. No primeiro ano, o Cruzeiro foi o terceiro colocado, ficando atrás de São Paulo e Grêmio. No segundo, após grande campanha de recuperação, a Raposa foi quarta colocada, a apenas cinco pontos do campeão Flamengo.
Deivid não brilhou como treinador. Ele foi a solução caseira em 2016 após Mano Menezes, depois de grande trabalho na reta final de 2015, trocar a Toca da Raposa pelo futebol chinês. Ele comandou o time apenas no Campeonato Mineiro e foi demitido após ser eliminado pelo América nas semifinais do Estadual.
Abel Braga substituiu Rogério Ceni no Campeonato Brasileiro de 2019, quando o Cruzeiro foi rebaixado. Ele não conseguiu ser o salvador cruzeirense e caiu após uma derrota de 1 a 0 para o CSA, no Mineirão, num jogo em que Thiago Neves errou um pênalti. Adilson Batista foi o seu substituto e comandou o time nas três partidas finais pela Série A.
História
Se a partir de 2001 Fernando Diniz é apenas o terceiro ex-jogador do Cruzeiro a voltar ao clube como técnico, no século passado ter ex-atletas comandando a equipe principal era uma coisa comum. E grandes nomes da história cruzeirense exerceram as duas funções.
Essa história começa com Bengala, atacante tricampeão mineiro quando o clube ainda se chamava Palestra Itália, em 1928, 1929 e 1930.
O verdadeiro esquadrão palestrino formado no final da década de 1920 tinha outros nomes que também foram treinadores do clube, como os artilheiros e irmãos Ninão (João Fantoni) e Niginho (Leonízio Fantoni).
Outro integrante da família, o irmão mais novo de Ninão e Niginho, o atacante Orlando Fantoni, também foi jogador e treinador do Cruzeiro.
Nessa lista de quem foi jogador e treinador do Cruzeiro, destaque para o ex-volante Ílton Chaves, que foi tetracampeão mineiro de 1965 a 1968 e conquistou ainda a Taça Brasil, em 1966, como integrante do maior time da história celeste.
Como técnico, ele lidera a lista de quem mais comandou a Raposa, com 389 partidas. No início dos anos 1970, logo após deixar a carreira de treinador, foi tetracampeão mineiro entre 1972 e 1975, sendo ainda vice do Brasileirão em 1974.
Outro integrante do time campeão da Taça Brasil de 1966 a dirigir o Cruzeiro foi o ex-zagueiro Procópio, que comandou a equipe em 1978, 1981 e 1986.
Campeões da Taça Brasil (1966) e da Copa Libertadores (1976), o ex-goleiro Raul e o ex-volante Zé Carlos treinaram o time em 1987 e 1988, respectivamente.
Do time campeão da Libertadores, foram também comandantes do Cruzeiro o ex-zagueiro Moraes, o ex-lateral Nelinho, o ex-meia Eduardo Amorim e o ex-atacante Palhinha.