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Há árbitros envolvidos no esquema de apostas? Veja o que dizem Anaf, MP e STJD

Presidente de associação diz à Itatiaia que promotorias do MP de Goiás e do STJD informaram que não há investigação contra a arbitragem

A informação repassada pelos promotores do Ministério Público de Goiás (MP-GO) responsáveis pela Operação Penalidade Máxima, e pela procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), ao presidente da Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol), Salmo Valentim, é a de que, até o momento, não há árbitros investigados no procedimento que apura a manipulação de resultados em jogos de futebol por meio de quadrilhas de apostadores.

“O árbitro talvez seja o mais vulnerável elo nessa escala do futebol. Não tem contrato, não é formalmente um empregado, seja da CBF ou das federações estaduais. Mas vamos confiar na idoneidade desses profissionais. Entrei em contato diretamente com o Ministério Público de Goiás para colher informações e a resposta foi a de que não há árbitros investigados. O mesmo ouvi no STJD”, disse Valentim em entrevista à Itatiaia.

O procurador-geral do STJD, Ronaldo Piacente, já havia dito em entrevista à reportagem, em meados de abril, que neste momento havia apenas jogadores de futebol investigados na Operação Penalidade Máxima, sem a presença de dirigentes ou de árbitros, o que não mudou quase um mês depois. O MP-GO, por enquanto, também informa que a apuração se baseia no aliciamento de atletas.

Valentim disse que a associação, até este momento, não foi procurada por nenhum profissional da arbitragem para denunciar a tentativa de aliciamento por parte de quadrilhas de apostadores. E que é preciso se questionar se a enxurrada de patrocínios de sites de apostas nas principais entidades e campeonatos do Brasil está fazendo bem para o produto futebol.

“Precisamos avaliar se é certo esse dinheiro todo entrando de sites de apostas vendo agora o que está acontecendo com essas investigações”, disse Valentim.

Há um procedimento obrigatório que os árbitros fazem depois de cada jogo, que é um relatório, além da súmula. Nesse documento é preciso comunicar se há atitude oriunda de qualquer pessoa estranha à partida. Isso incluiria assédio para participar de esquemas de manipulação de resultados. Com o registro em documento oficial poderia ser feito um boletim de ocorrência e denúncia às autoridades desportivas.

A Operação Penalidade Máxima

O Ministério Público de Goiás ofereceu nova denúncia contra 17 pessoas no âmbito da Operação Penalidade Máxima II. Os denunciados são divididos em três núcleos: financiadores, apostadores e intermediadores. Seis jogadores estão denunciados nessa nova fase. A Itatiaia teve acesso à denúncia e detalha as argumentações do MP-GO.

Nove pessoas são investigadas por “dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva”. Efetivamente, são as pessoas que abordaram os jogadores oferecendo valores para cometer pênalti ou ser punido com cartão. A pena de reclusão vai de dois a seis anos e multa.

Bruno Lopez de Moura, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luís Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes, Zildo Peixoto Neto, Gabriel Ferreira Neris, Romário Hugo dos Santos, Pedro Gama e Matheus Phillippe Coutinho Gomes estão nessa categoria. Alguns deles são denunciados mais de uma vez - Bruno e Luís Felipe, por exemplo, foram enquadrados no mesmo artigo 13 vezes.

Os jogadores Eduardo Bauermann (Santos), Victor Ramos (à época na Portuguesa), Igor Carius (à época no Cuiabá), Paulo Miranda (à época no Juventude) e Fernando Neto (à época no Operário-PR) foram denunciados no Art. 41-C do Código Penal Brasileiro. A pena é de reclusão de dois a seis anos para quem solicita ou aceita vantagem ou promessa de vantagem para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva.

Aqui vale ressaltar que os jogadores não necessariamente receberam o dinheiro prometido. Victor Ramos, por exemplo, acertou os detalhes do acordo, mas não chegou a receber o dinheiro, pois a aposta não foi efetivada.

Outros quatro jogadores colaboraram com as investigações e não foram denunciados pelo MP-GO. Onitlasi Moraes Rodrigues Júnior (à época no Juventude), Kevin Lomónaco (Bragantino), Nikolas Santos de Farias (Novo Hamburgo) e Emilton Pedroso Domingues (Inter de Santa Maria) receberam valores e concordaram com a manipulação, mas auxiliaram o órgão público.

Kevin Lomónaco teria aceitado vantagem indevida em um jogo do Brasileirão e recebido R$ 30 mil, mas quando foi abordado novamente pelos aliciadores para ser advertido num jogo do Campeonato Paulista negou a proposta.

A investigação ainda está em andamento e o governo federal determinou que a Polícia Federal participará da apuração. Há também a possibilidade da criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso para tratar do assunto.

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.
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