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‘Ainda Estou Aqui': filme de Walter Salles sobre a ditadura militar concorre a prêmio em Veneza

Produção brasileira estrelada por Selton Melo e Fernanda Torres será exibida no Festival de Cinema de Veneza de 2024 na tarde deste domingo (1º)

Filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” conta com participação de Fernanda Montenegro

O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” será exibido no Festival de Cinema de Veneza de 2024 na tarde deste domingo (1º). Dirigido por Walter Salles, a produção está na seleção oficial da competição e concorre ao Leão de Ouro.

A produção brasileira sobre a ditadura militar, é, sobretudo uma homenagem à mulher de Rubens Paiva, engenheiro e político desaparecido em 1971. O político é interpretado pro Selton Melo.

Paiva foi deputado de esquerda até que a ascensão dos militares em 1964 o levou ao exílio. Retornou inesperadamente ao país, onde retomou a carreira de engenheiro, sem abandonar os contatos com a clandestinidade.

Quando a situação se agravou no Brasil, com ataques e sequestros de grupos de extrema esquerda e uma sangrenta repressão militar, Paiva foi preso, em janeiro de 1971. Um grupo de homens armados o tirou de sua casa no Rio e ele nunca mais reapareceu.

Sua esposa, Eunice, também foi detida juntamente com uma de suas filhas e passou 12 dias sob interrogatórios. Interpretada por Fernanda Torres, e depois por sua mãe Fernanda Montenegro na velhice, Eunice é a mulher que não desiste da busca por seu marido, sem abandonar a educação dos filhos.

“A história de Eunice se confunde com a do Brasil naqueles anos horríveis que vivemos”, lembrou Salles em coletiva de imprensa neste domingo (1°).

O filme é baseado no livro escrito por um dos filhos do casal, Marcelo Rubens Paiva, em homenagem à mãe incansável, que se reconstruiu como advogada e que posava diante da imprensa sem perder o sorriso.

O mesmo sorriso que mostrou quando finalmente conseguiu, 25 anos depois do desaparecimento do marido, obter a certidão de óbito oficial.

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“Ela era uma mulher que enfrentava a tragédia, que evitava os melodramas. Ela não queria chorar na rua com a família. Não queria que seus filhos se tornassem vítimas da ditadura. E a forma como decidiu fazer isso foi com o silêncio e um sorriso. É incrível”, refletiu Fernanda Torres na coletiva de imprensa.

“Anos depois, quando a minha mãe adoeceu com Alzheimer, senti que tinha que escrever o livro sobre ela. Foi muito importante escrever nesse momento porque a democracia está em perigo em todo o mundo”, explicou Marcelo Rubens Paiva, presente na estreia do filme.

“O cinema é uma ótima ferramenta contra o esquecimento. A literatura também”, acrescentou Walter Salles, conhecido por filmes como “Central do Brasil”, “Diários de Motocicleta” e “Na Estrada”.


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Formada em jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Giullia Gurgel é repórter multimídia da Itatiaia. Atualmente escreve para as editorias de cidades, agro e saúde