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Ex-passageiro do voo 375 aprova filme que conta história do sequestro e relembra manobras

Renato Resende, engenheiro aposentado que presenciou sequestro de avião, destacou coragem do comandante Murilo

Jorge Paz e Danilo Grangheia nos papéis de Raimundo Nonato e o piloto Fernando Murilo

Mais de 30 anos depois, a história do voo 375, sequestrado em uma tentativa de atentado contra o então presidente José Sarney, foi transformada em filme. “O Sequestro do Voo 375" chegou recentemente aos cinemas e, nesta terça-feira, a Itatiaia recebeu o engenheiro aposentado Renato Resende, que estava entre os passageiros.

O voo 375 ia de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro quando foi sequestrado pelo maranhense Raimundo Nonato Alves da Conceição. Aos 28 anos, o jovem estava desempregado durante um período de crise financeira no país e decidiu protestar contra o governo por meio de um atentado, jogando um avião no Palácio do Planalto para matar Sarney.

Resende, um dos passageiros, relembra que passou mais de três horas voando e pelo menos cinco horas no aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, quando o sequestrador foi contido. Durante o voo, o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva precisou realizar manobras arriscadas, nunca feitas com um avião daquele porte.

Renato Resende, engenheiro aposentado, participou do programa Rádio Vivo

“Foram duas manobras extremamente arriscadas. Com a competência, a tranquilidade, o conhecimento dele em aviação, porque ele já tinha sido piloto da FAB (Força Aérea Brasileira) e coragem”, exaltou Resende. “Virou quase um liquidificador. Era impossível um avião daquele tamanho e daquele porte fazer essa manobra. É milagre? Não sei, mas é uma competência extraordinária do piloto”.

Ele fez como último recurso, porque o combustível também estava acabando, e deu certo. Foi o momento mais tenso de todos. Eu tinha certeza da queda, só pedia a Deus que [o avião] não caísse em cima das pessoas.

O comandante Murilo, ex-funcionário da VASP, morreu aos 76 anos, em agosto de 2020. Em vida, o piloto foi condecorado com uma medalha da FAB, mas foi ignorado por José Sarney. “Foi uma indelicadeza. Eu acho que, com a experiência dele, ele jamais jogaria o avião sobre o Palácio do Planalto, iria em outra área. Poderia ter uma deferência por parte do governo”, definiu Resende à Itatiaia.

Durante o sequestro da aeronave, o copiloto Salvador Evangelista foi assassinado com um tiro na cabeça. Dois outros tripulantes também foram feridos por disparos de Raimundo Nonato. “Ninguém sabia que o copiloto estava morto, somente um passageiro relatou ter visto e não contado, porque achou que ia prejudicar mais do que ajudar”, relembrou o engenheiro aposentado.

Nonato também morreu alguns dias após a tentativa de atentado, por circunstâncias definidas como “misteriosas”. O responsável pelo atentado foi baleado enquanto tentava fugir do aeroporto. Apesar dos tiros, o atestado de óbito cita uma anemia falciforme como causa da morte.

Sequestro do voo 375 inspirou Bin Laden?

Notícias do atentado ocorrido no Brasil teriam sido encontradas em um dos esconderijos de Osama Bin Laden, fundador da Al-Qaeda (1957-2011). O terrorista foi responsável por liderar os ataques do dia 11 de setembro de 2011 nos Estados Unidos, mais de 20 anos depois.

Alerta de spoilers! O longa retrata que Bin Laden teria se inspirado na tentativa de atentado registrada no Brasil, mas não existem provas documentais sobre a relação. Resende, que tomou conhecimento dos rumores sobre uma ligação entre os atentados recentemente, acredita que pode ter existido uma inspiração.

“Fiquei sabendo desse fato do Bin Laden [ter se inspirado no sequestro] em uma reportagem sobre o filme. Achei que teria possibilidades enormes. Acho que aconteceu sim e esse fato promoveu e aguçou a ideia dos terroristas naquela época, infelizmente”, afirmou o engenheiro aposentado à Itatiaia.

Filme sobre o sequestro foi realista?

O sequestro do voo 375 inspirou um filme dirigido por Marcus Baldini, responsável por “Bruna Surfistinha” e “Uma Quase Dupla”. O longa chegou aos cinemas em 7 de dezembro e remonta à história do caso que chocou o país na década de 1980.

Renato Resende, que presenciou a tentativa de atentado, assistiu e aprovou a produção. “Eu achei extremamente real, um filme que expõe aquela situação com uma clareza e realidade incríveis. Claro que tiveram algumas licenças cinematográficas, mas, no todo, absolutamente real. Foi muito bem feito”, definiu.

O longa “O Sequestro do Voo 375" segue disponível nos cinemas. Na Grande BH, o filme está sendo exibido em mais de 15 salas de cinema, com mais de 23 sessões disponíveis.

Maria Clara Lacerda é jornalista formada pela PUC Minas e apaixonada por contar histórias. Na Rádio de Minas desde 2021, é repórter de entretenimento, com foco em cultura pop e gastronomia.